cerca de 800 habitantes provenientes de 65
países, das mais variadas idades, condições so-
ciais, culturas e religiões.
Após visitar a comunidade de Nomadelfia,
Francisco esteve em Loppiano, onde foi recebi-
do por Voce e pelo copresidente dos Focolares,
Jesús Morán. Assim que chegou, o papa visitou
o santuário Maria Theotokos, local em que per-
maneceu para um breve momento de oração.
Em seguida, durante duas horas, acompanhou
uma intensa programação, preparada especial-
mente para a ocasião. Testemunhos e um mo-
mento de diálogo com moradores de Loppiano
marcaram o programa.
FIDELIDADE CRIATIVA
O momento mais esperado foi, sem dúvida, o
discurso do pontífice aos presentes, transmi-
tido via streaming para o mundo todo. Fran-
cisco pediu aos membros do Movimento dos
Focolares que concretizem o que ele chamou
de “fidelidade criativa”, isto é, “ser fieis à ins-
piração originária [do carisma fundado por
Chiara Lubich] e, juntos, ser abertos ao sopro
do Espírito Santo e empreender com coragem
os caminhos novos que Ele sugere” na vivência
da espiritualidade da unidade. Para dar conta
desse desafio, o pontífice elencou, entre as vir-
tudes necessárias, a “humildade, abertura, si-
nergia, capacidade de arriscar”, associadas ao
“discernimento comunitário” que implica es-
cutar Deus “até sentir com Ele o grito do Povo”
e, ao mesmo tempo, escutar o povo “até respi-
rar a vontade à qual Deus o chama”.
Além disso, o papa confiou a Loppiano duas
palavras-chave gregas como fundamentais
para o cumprimento da sua missão: parresia e
hyponomè. No primeiro caso, ele se refere à “co-
ragem e sinceridade ao dar o testemunho da
verdade e, ao mesmo tempo, a confiança em
Deus e na Sua misericórdia”. O segundo termo
diz respeito à perseverança nas “situações de-
safiadoras que a vida nos apresenta”, cuja base
deve ser a consciência do amor de Deus que
“nos torna capazes de viver com tenacidade,
serenidade, positividade, fantasia… e também
um pouco de bom-humor”.
Para o papa, Loppiano, como toda a Igreja
de hoje, é desafiada a construir uma “cultura
compartilhada do encontro e uma civilização
global de aliança”, em resposta à crise do mo-
mento histórico atual, marcado pela pobreza
e pelo drama das migrações forçadas. Nessa
perspectiva, tendo em vista sua vocação como
centro de formação espiritual e humana, Fran-
cisco exortou Loppiano a inaugurar um “pac-
to formativo”, fundamentado no diálogo e na
proximidade para “exercitar juntos as três lin-
guagens: da mente, do coração e das mãos”.
Francisco afirmou que, por ser uma “cidade
aberta e de saída”, centros de formação como
esse deveriam avançar em sua atuação, tendo em
vista horizontes mais amplos. Isto é, fazer chegar
o carisma da unidade na massa da sociedade, so-
bretudo onde existe mais pobreza e sofrimento.
IGREJA HIERÁRQUICA E CARISMÁTICA
Para a teóloga católica brasileira Sandra Ferrei-
ra Ribeiro, moradora de Loppiano, “ao longo
do discurso do papa, encontramos gratidão a
Deus pelo carisma de Chiara Lubich, que está
na raiz da vida de Loppiano; vida que ilustra
sintonia com a autocompreensão da Igreja a
partir do [Concílio] Vaticano 2º”. De fato, se-
gundo o próprio Francisco, uma de suas moti-
vações para a visita foi o interesse em conhecer
a experiência daquela cidadezinha como uma
“ilustração da missão da Igreja hoje, assim
como foi traçada pelo Vaticano 2º”.
“Francisco afirmou que, por ser uma
‘cidade aberta e de saída’, centros de
formação como esse deveriam avançar
em sua atuação, tendo em vista horizontes
mais amplos”
De acordo com Ribeiro, o discurso do papa
acena “àquela sinodalidade que caracteriza o
estilo de vida da Igreja em todos os níveis e que
está emergindo sempre mais do magistério de
Francisco, em palavras e gestos”. A esse respei-
to, a teóloga salienta que esse encontro com o
papa é uma manifestação plena do encontro
entre as dimensões hierárquica e carismática
Junho 2018 | Cidade Nova |
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