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foi entendido mais como um ato individual sob a guia de um diretor espiritual . Hoje é preciso algo mais . Para todos , é uma conversão a um modo comunitário de viver o Evangelho . Não vamos a Deus sozinhos .
Sem dúvida , aqui está a importância do tema da sinodalidade tão vigorosamente evidenciado pelo papa Francisco . Durante o Sínodo dos Bispos de 2015 , ele afirmou : “ Uma Igreja sinodal é uma Igreja da escuta , na consciência de que escutar ‘ é mais do que ouvir ’. É uma escuta recíproca , na qual cada um tem algo a aprender . Povo fiel , Colégio Episcopal , bispo de Roma : um escutando os outros ; e todos escutando o Espírito Santo , o ‘ Espírito da verdade ’ ( Jo 14,17 ), para conhecer o que Ele ‘ diz às Igrejas ’ ( Ap 2,7 )”.
Caminhar juntos como Igreja sinodal , ainda nas palavras do Papa , “ é um conceito fácil de exprimir com palavras , mas não tão fácil de pôr em prática ”. Não deve ser confundido meramente com um processo democrático ( embora também na Igreja procedimentos democráticos sejam sempre necessários ). Trata-se muito mais de viver uma “ mística do encontro ”, ou seja , uma espiritualidade comunitária a ser atuada no cotidiano da vida eclesial . Sem dúvida , organismos de participação em todos os níveis de Igreja são úteis . Mas não bastam esses organismos se não estiverem apoiados e animados por uma conversão pessoal , pastoral e intelectual , fruto justamente da mística do encontro .
Conta-se que quando Tomás de Aquino não conseguia compreender um conceito ou esclarecer um ponto difícil da doutrina , ele largava tudo , ia à capela , abria o sacrário , enfiava nele a cabeça e permanecia assim até receber uma luz . Hoje estamos descobrindo o “ sacrário ” de Jesus entre nós na comunhão vivida à luz de uma espiritualidade sinodal . Para possuirmos a mente de Jesus ( cf . Fl 2,5 ), temos que adotar em nossas relações uma lógica da “ pirâmide invertida ”. É preciso que cada um deixe para trás a hegemonia do próprio “ eu ” para se identificar com o outro e com seu modo de pensar e ver as coisas . É preciso que isso seja feito em conjunto , de modo que nossa relação mútua “ gere ” a luz do Cristo entre nós . Mas isso custa . Requer uma morte , mas é uma morte por amor , que gera luz e vida .
Agradeçamos a Deus pela dádiva do Papa que , em nossos tempos , nos convoca a novos percursos de sinodalidade justamente no campo do discernimento … Com ele caminhamos seguros para enfrentar cum Petro et sub Petro , e todos juntos sub Cristo , aquela mudança de época que nos conduzirá a uma experiência nova também da Igreja-una .
O autor é bispo católico de Limerick , Irlanda , foi professor de teologia sistemática e é presidente da Comissão para a educação católica e da Comissão ecumênica da Conferência Episcopal Irlandesa
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Cidade Nova • Julho 2017 • n º 7 37