Cidade Nova 592d6c1e3e089535783527pdf | Page 2

A ferramenta essencial

” é o diálogo operativo, o que implica a abertura ao outro, à sua realidade, a tudo aquilo que traz consigo

A ferramenta essencial é o diálogo operativo, o que implica a abertura ao outro, à sua realidade, a tudo aquilo que traz consigo( conhecimento produzido, experiência cultural). Entender quem é o outro é ponto de partida. Compreendê-lo constitui-se numa outra etapa, porque significa trazê-lo para dentro si, acolhê-lo. Essa perspectiva requer também uma nova maneira de se trabalhar
© JackF | Fotolia. com com os valores em sala de aula, de estabelecer uma relação entre conteúdo e vida, de possibilitar que esses conteúdos realmente provoquem uma transformação positiva na maneira de ver e agir no mundo.
Como parte fundamental da construção da aula dialógica, encontra-se o professor que, numa atitude constante de inquietação, assume uma disposição a um trabalho voltado para o outro, para o enfrentamento de conflitos, de trocas de ideias, experiências que suscitem, por meio desse compartilhamento de diferentes discursos, um redimensionamento das relações interpessoais. Retomando as palavras sábias de Paulo Freire, o diálogo é o encontro dos homens mediatizados pelo mundo, não sendo possível a sua existência quando uns negam aos outros o direito à palavra.
A aula dialógica, de fato, propicia um regate da dimensão relacional que está presente no ato de ensinar e aprender. Bakhtin, um grande pensador russo, estudioso da linguagem, defendia a ideia segundo a qual qualquer forma de discurso, de comunicação com o outro, deveria se constituir como um momento de empatia, de reciprocidade, de respeito.
Assim, em uma aula dialógica, ao enriquecer-se com o outro, o sujeito-professor não perde a sua identidade, mas, ao contrário, esta é plenamente enriquecida. A construção do diálogo entre professores e alunos demanda, desse modo, uma superação de uma atitude passiva e de um discurso autoritário.
Se existe uma postura que leva em conta o outro, os discursos produzidos e trabalhados na escola( e aqui levamos em conta também aqueles que advêm da família e o da mídia, que são trazidos a esse universo), deixam de ser monológicos, centralizadores e fechados, o que não significa dizer que haja uniformidade; ao contrário, a aula dialógica pressupõe sempre a diversidade.
Por meio do diálogo operativo, professores e alunos são capazes de romper as próprias barreiras que, muitas vezes, as palavras suscitam. A aula, nessa perspectiva, permite que se compreenda cada sujeito como alguém único, que traz consigo uma cultura, uma história de vida, e que se construam pontes relacionais capazes de promover enriquecimento e troca.
A escola, mais do que nunca, assume esse papel“ político” de espaço de formação e mudanças, mas não será apenas por meio do conhecimento puramente científico que isso ocorrerá. É preciso resgatar a verdadeira dimensão da aula dialógica, por meio da qual o conhecimento trabalhado nesse locus esteja imbuído de um novo olhar, de uma nova ética, de um trabalho com valores para que possamos reconstruir nossas relações e transformar o mundo que nos cerca.
Cidade Nova • Junho 2017 • n º 6 37