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não diz : “ esqueça a lei do sábado ”. Ele diz que nos momentos em que a aplicação da lei , em vez de ajudar , fere a dignidade humana , você suspende a lei . O papa vai nessa direção de que o importante da mensagem cristã é que Deus salva pela misericórdia e que nós devemos ser testemunhos do amor misericordioso de Deus . Se a vida concreta das pessoas , não por vontade própria , mas por circunstâncias , levar a uma condição de romper o limite da lei estabelecido pela doutrina da Igreja católica e não for possível resolver isso , vamos ser misericordiosos e vamos assumir e readmitir .
O sr . disse que havia uma segunda questão a respeito da crítica teológica … A segunda questão é sobre qual a função da Igreja e do sacramento . A participação no sacramento não é prêmio para quem cumpriu a lei . A eucaristia é um alimento espiritual para aqueles que querem seguir Jesus . Dizer : “ Esse pessoal não tem direito de comungar porque está fora da lei ”, no fundo é dizer : “ A eucaristia é prêmio para quem se mantém na lei ”. E o papa diz que a eucaristia e a comunidade cristã , a Igreja , são espaço de acolher as pessoas que querem seguir o caminho de Jesus e , para isso , precisam de força espiritual , daí a convivência comunitária e o alimento espiritual por excelência , que na tradição católica é a eucaristia . No fundo , o que está em discussão é a teologia da salvação , mais do que divorciado , mãe solteira , batismo , essas coisas .
Como o sr . enxerga a tensão entre a universalidade da norma e a particularidade das situações concretas ?
Arquivo pessoal
A universalidade da norma não dá conta dessa questão , porque você pode pegar uma norma universal , ver a situação particular e aplicar a norma na perspectiva do castigo , para privilegiar os que obedeceram fielmente a lei . O Estado age sempre pela punição , porque essa é a sua função , mas a Igreja não pode reproduzir a lógica do Estado . O pessoal que defende a lei pensa a Igreja como Estado , talvez porque boa parte da tradição católica foi construída na época em que Igreja e Estado se confundiam . Mas se olharmos o início do cristianismo , ele é um contraponto à lógica do Estado , seja do Estado de Jerusalém , seja do Estado Romano . O papa quer recuperar isso . É claro que há tensão entre norma universal e a realidade particular , mas nessa tensão a Igreja deve escolher a perspectiva da misericórdia e não a da punição . Não se trata de relativizar tudo . O papa não está jogando a lei fora , mas a vida concreta , a dignidade e o desejo da pessoa de seguir Jesus é mais importante , portanto nós relativizamos a lei . O princípio da misericórdia e o do amor devem prevalecer .
O Papa distingue a situação de uma segunda união consolidada no tempo , com filhos e com a fidelidade a esse segundo laço , de uma segunda união “ que vem de um divórcio recente , com todas as consequências de sofrimento e confusão que afetam os filhos e famílias inteiras ”. O sr . concorda com essa distinção ? Tem uma questão importante nessa proposta do papa que não diz respeito somente à pessoa que está fora da regra de Igreja e quer voltar à vida plena da comunidade . Também é uma questão de aprendizagem da comunidade , que deve discutir qual é o princípio que a c
Cidade Nova • Abril 2017 • n º 4 7