Trechos de: “Três Homens Maus (3 Bad Men) – Os Adoráveis Bandidos de John Ford,
por Darci Fonseca.
Íntegra: http://westerncinemania.blogspot.com.br/2015/06/tres-homens-maus-3-bad-
men-os-adoraveis.html
Dos 59 filmes silenciosos dirigidos por John Ford somente 10 sobreviveram e um
deles é “Três Homens Maus” (3 Bad Men), realizado em 1926. Em 1924 Ford havia dirigido “O
Cavalo de Ferro” (The Iron Horse), enorme sucesso de público e muito bem recebido pela
crítica, consagrando o nome de John Ford como um dos principais diretores do cinema norte-
americano de então. A Fox, estúdio que mantinha John Ford sob contrato queria produzir um
western com três astros do gênero no elenco: Tom Mix, Buck Jones e George O’Brien. A
história “Over the Border”, de autoria de Herman Whitaker, parecia bastante apropriada pois
possuía três personagens importantes que eram três regenerados foras-da-lei. No entanto
John Ford, também produtor executivo do filme, vetou a ideia pois pretendia realizar um
projeto pessoal. As presenças dos três famosos atores até poderia resultar num sucesso de
público, mas certamente geraria uma guerra de egos que Ford, aos 30 anos de idade não queria
administrar.
Os desajustados do Velho Oeste - John Ford gostou da história de Herman
Whitaker pois ela possibilitou que o diretor desenvolvesse temas que seriam encontrados em
outros filmes de sua longa carreira. A conquista da terra, a formação da família e o
desenvolvimento da nação fruto da coragem e do idealismo sempre permearam os filmes de
Ford. ‘Cheyenne Harry’, herói vivido em tantos filmes da parceria John Ford-Harry Carey,
havia sido um fora-da-lei e em “Três Homens Maus”, bandidos redimidos são,
paradoxalmente, os grandes responsáveis para que o crime não prevaleça. E assim seria através
de muitos outros filmes de Ford: o Ringo Kid de “No Tempo das Diligências” (Stagecoach),
passando pelos três padrinhos de “E o Céu Mandou Alguém” (3 Godfathers), por Ethan
Edwards de “Rastros de Ódio” (The Searchers) até chegar a Tom Doniphon de “O Homem que
Matou o Facínora”. [...] E em “Três Homens Maus”, a simpatia que Ford nutre pelos bandidos
de bom coração encontra correspondente no desprezo pelo xerife, vilão devidamente
autorizado a agir criminosamente pela estrela que carrega no peito. Ford ajudou a fortalecer a
lenda em torno do nome de Wyatt Earp e seus irmãos em “Paixão dos Fortes” (My Darling
Clementine), mas o acovardado xerife de Shinbone (Andy Devine) não deixa dúvidas sobre o
que ele pensava das ‘autoridades’ do Velho Oeste. Layne Hunter, o xerife de Custer, é um dos
mais odiosos representantes da lei mostrados em um faroeste, enfrentado pelos três bandidos
que vivem do crime, adoráveis e imprescindíveis homens do Oeste, na visão de Ford, ainda que
homens desajustados.