Trechos de: Pat Garrett & Billy The Kid (Sam Peckinpah, 1973), por Daniel Dalpizzolo.
Íntegra: http://multiplotcinema.com.br/antigo/2008/05/17/pat-garret-billy-the-kid-
sam-peckinpah-1973/
Antes de produzir Pat Garrett & Billy The Kid, Peckinpah já havia decretado o
fim da era western no cinema, mas nunca de forma tão romântica e alegórica quanto neste
monumento erguido à passagem do tempo – que muito bem pode ser encaixado como último
capítulo do epílogo de um gênero. Aliás, tem um único plano, sutilmente posicionado no
princípio da fuga que estabelece a caminhada final de Pat e Billy rumo à morte, que mais ou
menos representa o próprio filme, em tom e substância: um take em contraluz que mostra a
silhueta de um dos protagonistas enquanto anda a cavalo às margens de um lago, no período
crepuscular.
É talvez o plano mais representativo de todo o velho-oeste; não este do filme de
Peckinpah, mas a própria ação e o exercício de se fotografar o cowboy em passos lentos
rumando em direção a qualquer lugar, com o horizonte ao fundo, abusando de uma esfera
romântica e, porque não, completamente épica. Mas Peckinpah filma tudo ao contrário. Não
é no horizonte que se forma a silhueta – ele está encoberto por tantos outros contornos
pretos que compõem a paisagem arborística da locação. O que vemos é o reflexo invertido
nas águas do lago, sempre tremulas, deixando o cowboy desfigurado ,torto, com linhas
balançantes.
O que encontramos neste Peckinpah não é o nosso velho-oeste, aquele que
tanto adoramos; vigoroso, embrutecido, musicado pelo tilintar das esporas e recheado com a
macheza e violência corriqueiras. Pat Garrett & Billy The Kid é a distorção, o fim definitivo de
tudo isso, mais do que qualquer outro ensaiado anteriormente – não simplesmente o
desencaixe do velho código de honra, mas a punição a quem ainda não havia se entregado aos
novos costumes, através dos quais a lei finalmente tomava o posto de maestro social, numa
forma de tentar coibir a violência e encobrindo, automaticamente, a justiça autônoma,
pessoal.
[...] Diferente de tudo que o você já viu no gênero – e na retratação de um mito,
coisa feita sem nenhum brilho, sem nada de épico -, talvez por ser o maior anti-western do
mundo. Devastador.