Teen Movies
Trechos do texto: “Uma Questão de Tempo”, por Matheus Kerniski.
Existe um caráter documental dentro das obras que se aventuram
em filmar uma experiência adolescente, que é figura essencial para sua
substância. Porém o que diferencia esse caráter, quase inequívoco, daquele
presente em toda ficção? Daquela busca por um instante de verdade através
desse teatro assumido que se desenrola diante da câmera?
Dentro de uma arte demasiadamente premeditada, a captação de
um acontecimento real encontra-se como um interessante paradoxo. O
universo cinematográfico tem como base lapidar a mise en scène , uma
estratégia não apenas de emulação, mas também capaz de abrir essa brecha
por onde o lado documental possa fundir-se ao material bruto da ficção.
Mesmo que ambos nasçam por caminhos opostos, essa pulsão
documentária inerente colabora como se em ambos os registros ocorre-se uma
filiação mútua, adensando a experiência representada através de sua mescla e
dependência. Com isso levantado, é preciso notar que os filmes sobre
adolescência adquirem uma força ainda maior do que a natural quando aí
resvaladas .
Não existe nenhum período da vida que tenha sido codificado
como um gênero como os chamados teen movies . Novamente, outro paradoxo:
mesmo diante de um período de formação reconhecível a todos nós, estamos
diante de uma experiência que quando representada no cinema adquire uma
mitologia própria, com seus próprios arquétipos, situações emblemáticas e
confrontos universais.
Com isso, sublinhamos que a experiência adolescente adquire esse
contorno mítico justamente pelo seu caráter universal, pelo recorte que faz do
particular, espelhado ao geral, no atemporal... É possível avaliar que no fundo
essa potência, essa pulsação latente da vida que se espalha por esses filmes,
vem primordialmente por uma questão de tempo.