Catálogo Cine FAP Segundo Semestre de 2018 | Page 20

Trechos de: “Entrevista com Kiyoshi Kurosawa”, por Diane Arnaud e Lili Hinstin. Íntegra:https://www.festivalentrevues.com/sites/default/files/images/archives/interv iew_kurosawa_hd.pdf DA Nós vamos começar com Cure , que é o primeiro de seus filmes que foram exibidos em Paris, quinze anos atrás. E posso dizer que o enigmático Mamiya não será esquecido tão cedo. Eu gostaria de saber porque você escolheu criar um paralelo entre esse filme e a obra prima de Richard Fleischer. O que exatamente você encontrou na encenação deste filme sobre um serial killer? KK Eu escolhi O Homem Que Odiava as Mulheres de Richard Fleischer, não só porque é relacionado, até certo, ponto a Cure , mas também porque é um dos meus filmes favoritos na história do cinema e ter a oportunidade de apresentá-lo significa muito para mim. Então, quando eu estava filmando Cure – bem, na verdade, mesmo antes disso, quando eu estava pensando no enredo do filme, o O Homem Que Odiava as Mulheres veio à minha mente por causa de sua estrutura muito singular. O filme abre com uma investigação, um policial procurando por um culpado, aparentemente procurando em vão um criminoso. E então, depois de um tempo, talvez no meio do filme, quando o criminoso é pego pela polícia, toda a estrutura narrativa muda e se torna uma história completamente diferente. Eu sempre achei isso muito cativante e é a razão pela qual adotei uma maneira semelhante para Cure . DA Você diria que também foi influenciado pelas cenas em O Homem Que Odiava as Mulheres em que podemos ver como o assassino amnésico está recuperando suas memórias? KK Não tenho certeza se aparece diretamente em Cure , mas sim, são cenas extramamente ambiciosas e audaciosas: a maneira pela qual durante o processo de interrogatório, flashes e cenas do passado surgem. O policial que conduz o interrogatório está invadindo, irrompendo no passado de seu interlocutor para pedir respostas sobre os atos criminosos. Todo este princípio realmente fez uma marca em mim.