Catálogo Cine FAP Segundo Semestre de 2017 | Página 6

Trechos de:“ O“ Elan” Estrutural de Minelli”, por Lélio Sottomaior Júnior.
Em Vincente Minnelli, o caráter rigorosamente irrealista de mise-en-scéne, configurado através de uma configuração cromática, exagerada, estilizada, feérica das cores aliada a um tratamento " estrutural " do décor( ou seja, cenário / pano de fundo), no qual os personagens se relacionam conflitualmente por meio de travellings-dinamos num sentido de totalidade, faz com que o contato do espectador com a obra transcenda a dimensão reconfortante da verossimilhança trivial, para recobrar através dessa ascensão a um universo mágico semelhante a uma miragem, um jogo de espelhos, um jardim de estátuas ou a uma ópera, o espanto, a surpresa, a interjeição frente aos acontecimentos diários.
A condensação " mágico-formal " de élans, de microvibrações, de detalhes, de fluorescências, de micromacrorealidades: uma arte que debate oniricamente problemas concretos, e na qual o autor tanto mais se realiza quanto mais o espectador for um personagem seu.
Se é tomado ante um filme de Minnelli do mesmo fascínio ou distúrbio com que se assiste certas paisagens pela primeira vez. Obra, portanto, como de qualquer outro grande cineasta, Hitchcock, Visconti ou Lang, cujo propósito é nos fazer olhar de uma " maneira " inteiramente nova e inesperada, gestos e gentes, essa metamorfose perplexante e fatal que transforma uma menina-moça em mulher( Gigi), um dandy num engajado político( Os 4 Cavaleiros do Apocalipse), um semideus preso a um passado mítico num homem que libera-se( A Cidade dos Desiludidos).
Os personagens, ao se embaterem e se entrechocarem no mundo em uma aventura paroxística, num combate desmedido, acabam por descobrir a chave secreta do décor, nele integrando-se. A obra: uma verdadeira educação existencial.