Texto : “ Whit Stillman , um realizador fora de época ”, por Francisco Valente . Em : https :// www . publico . pt / 2012 / 09 / 25 / culturaipsilon / noticia / whit-stillman-um-realizador-fora-deepoca--310582 O universo de Whit Stillman ( n . 1952 ) sempre foi visto como um " objecto estranho " - a nível nacional , basta observar que nenhuma das suas quatro longas-metragens se estreou nas nossas salas . Mas os últimos anos reanimaram o culto à volta da sua obra : a Criterion Collection editou em DVD Metropolitan ( 1990 ), a sua primeira longa , e Last Days of Disco ( 1998 ), o seu projecto pessoal mais ambicioso . Este último filme , um fracasso financeiro à escala " indie ", terá sido responsável pelo afastamento do realizador , que demorou mais de uma década a encontrar financiamento para um novo projecto . A espera terminou no ano passado , com Damsels in Distress , obra que encerrou o Festival de Veneza em 2011 e que foi agora editada em DVD .
A sigla “ HB – Urban Haute Bourgeoisie – é uma possível definição para o universo do cinema de Stillman : é um cinema que se ocupa de uma classe especial de jovens e adultos entre os 18 e 35 anos , os sobreviventes de uma aristocracia norte-americana . O termo surge logo no primeiro filme , Metropolitan , numa das muitas discussões das personagens sobre as categorias sociais em que os próprios , e outros , se encaixam . A etiqueta é rapidamente adoptada e difundida nas mais variadas conversas com estranhos , fora de casa dos pais , onde os jovens se reúnem todas as noites em encontros de debutantes : raparigas e rapazes ali se iniciam na vida social , como que reproduzindo um nostálgico fin-de-siècle .
Mas Metropolitan , tal como todos os filmes do realizador , retrata um período específico : deprimido com a sua severa vida universitária em Harvard ( inspiração , mais tarde , para Damsels in Distress ), Stillman introduziu-se num restrito círculo social em que a etiqueta , os vestidos de noite e a suprema eloquência de um discurso com aversão a modernismos e ao calão se impõem como princípios para uma socialização que prefere a elegância nas palavras , na pose e ( pelo menos tenta-se ) no trato . Mas como em todos os filmes de Stillman - retratos de uma outra época colada ao tempo em que são filmados - , Metropolitan é um objecto dos anos 90 sobre a passagem da década de 60 para a de 70 , a idade da perda da inocência e da degradação da relação dos norte-americanos com o seu próprio país .
Autor dos guiões e dos diálogos de todos os seus filmes , Stillman viu o charme do seu humor ( uma versão mais refinada da sofisticação popular de Woody Allen ) ser reconhecido , em Metropolitan , com uma nomeação para o Óscar de melhor argumento original , e fez dessa marca o traço mais inimitável do seu trabalho . É ela , de resto , que transporta as suas obras para algo mais fundo do que a mera projecção de um meio social preppy ( numa tradução imperfeita , " betinho ") que pouco vive , na realidade , dos interesses intelectuais e emocionalmente complexos das personagens . Como chegou a dizer , o verdadeiro programa de Metropolitanera mostrar , mais do que pessoas cuja única ambição é vestirem-se bem , que ainda havia pessoas a quererem vestir-se como Fred Astaire , na vida e nos filmes , e a viverem , em espírito , num tempo passado .