Catálogo Cine FAP Segundo Semestre de 2016 | Page 15

janela. Da mesma forma, não se capta tantas cenas de paisagens em seus filmes por nada, mas porque é preciso registrar onde as pessoas vivem. Isto fica claro nos seus três filmes sobre a região de Koker ( Onde Fica a Casa de Meu Amigo? , A Vida e Nada Mais e Através das Oliveiras ), filmes estes que se revelam como reflexões sobre Koker e como se vive ali (os dois últimos foram feitos após um terremoto que arrasou a região e que é lembrado com freqüência pelos moradores). A geografia de Koker não deixa de ser tema dos filmes, algo ampliado em A Vida e Nada Mais e Através das Oliveiras pela forma que ela deixou marcas em cada pessoa que o cineasta encontra. [...] O que nos faz retornar novamente ao espectador e no profundo respeito que Kiarostami tem por ele. Porque tudo isto que o cineasta faz só tem como se completar com a nossa participação, este segundo encontra agora entre nós e o filme. Porque Kiarostami tem curiosidade em relação ao mundo, e este também nos inclui. Se este cinema nos soa difícil num primeiro instante, será só neste, porque o que Abbas Kiarostami nos pede é algo que quem ama cinema está sempre disposto a dar: o nosso desejo de nos perdermos naquilo que o cinema apresenta. [...] Qual a função do diretor de cinema, nos vemos diante de Dez forçados a perguntar (esta é apenas uma das diversas perguntas que o filme nos leva a levantar)? Especialmente porque assistindo-o não se há por nenhum momento a menor dúvida de que se trata de um filme de Abbas Kiarostami. Se o cineasta à primeira vista quase se exclui do processo da realização de seu filme, tudo o que ele faz não deixa de ser completamente coerente com toda a obra que desenvolveu até ali e o resultado final do que está na tela, a progressão quase natural dela. A penúltima seqüência é de uma força e beleza que não deixa a dever a outros tantos grandes momentos que o cinema de Kiarostami já nos legou.