Trechos de : “ Sobrenome : subversão ou o romântico do horror ”, por Ricardo Lessa . Íntegra : http :// www . filmologia . com . br /? page _ id = 2725
Mais do que simplesmente conduzir filmes até o ponto crucial em que eles se tornam irrefutavelmente ( de ) generativos , Wes Craven tentou ampliar a própria discussão do filme de gênero enquanto possibilidade romantizante , pois seus filmes para além dos reconhecimentos sensoriais e imagéticos do horror emergido parecem não reconhecer as limitações tangíveis e dilata-se para outros universos , que se numa primeira olhadela parece refutá-los , rapidamente os envolvem em seus braços – ou melhor , em suas garras . Condicionadamente cinematográfico e então aceitado por esses outros universos ( imensamente exploráveis e instigantes ), os filmes de Craven desenvolvem um signo incomum dentro de filmes qualificados por um gênero de horror indelével , a do signo que talvez seja o mais universal de todos : o amor .
Sintetizados nessa escala universal , os filmes do realizador norte-americano assumem também a faceta do não retorno , daquilo que já não pode ter outro caminho possível que não seja o confronto , a finalização do ato , da história em si como cataclismo narrrativo da violência genética dos E . U . A , do mundo . Violência gratuita ? Em certos momentos sim , em outros ela surge como artefato vingativo que só será saciado através do sangue abundantemente jorrado pelo corpo alheio – porque nos filmes de Craven os personagens só possuirão a chance de vingança se sangrarem , se puderem ser submetidos a uma espécie de expiação cinematográfica .
[...] Em seus filmes , o cineasta em maior ou em menor escala parece sempre explorar a questão do amor enquanto signo sagrado : seja na perda da filha querida em Aniversário Macabro ; de quase toda uma família em Quadrilha de Sádicos ; da mulher que tanto amava em Shocker ou da possibilidade da perda do pai em Voo Noturno , seus personagens estarão sempre dispostos a enfrentar e eliminar os responsáveis pelos crimes ou pelas ameaças . Um cinema corpóreo , vigoroso , que não reluta em expor sua ideologia ( ora demente e perversa , ora quase ingênua ) enquanto consequência cinematográfica . E de todos os filmes aquele possui o final que mais bem pode sintetizar esse vigor , esse não temor em ser violento é o de Quadrilha de Sádicos aonde um dos sobreviventes simplesmente continua a esfolar o assassino mesmo esse já estando morto – o filme assim termina , banhado a sangue , a lágrimas , a vingança .
Pelo borrar da violência genética ( e por assim ser , incurável ) o cinema de Craven unifica o sentido do ultra amor que gera a violência e aonde muitos tratam as duas pirâmides como uma cisão improvável de ser fundida , Craven , unificando-as , as amplificam como fragmentos de um cinema de horror imortal – talvez por isso seus “ vilões ” sempre insistem em não morrer ao fim dos filmes ( Stranger in Our House , A Hora do Pesadelo , a trilogia Pânico ). Uma imortalidade essencialmente cinematográfica .