Texto : “ Confissões de um Comissário de Polícia ao Procurador da República ”, por Bruno Andrade . Em : https :// letterboxd . com / timeistheking / film / co nfessions-of-a-police-captain /
(...) Na urgência atual sabemos , porém , que a lei não é uma força superior , não é um Deus , mas sim a expressão do momento histórico-político de uma sociedade . Na Itália a sociedade está em crise , e tudo foi colocado em questão com as tentativas de diálogos entre a polícia e os magistrados . Seria preciso democratizar a lei .
Mas esta lucidez não impede o perigo que surge do nascimento de um novo gênero dramático : o filme político . Esses produtos da moda não carregam nenhuma subversão ; eles funcionam unicamente como " objeto comercial ". Seus autores utilizam uma fascinação de tipo hollywoodiana , deixando ao espectador a possibilidade de se identificar a heróis . E assim vemos se multiplicarem vários falsos filmes políticos que não suportam nenhuma leitura políticorevolucionária .
Admito que é um problema enorme , e essencial , mas muito complexo . No limite , eu adoraria afirmar a necessidade de fazer filmes que desagradam o público , mas todos os filmes que desagradam o espectador não são automaticamente bons filmes . Então , é preciso considerar o grau de fascinação do espetáculo .
De qualquer forma , é impossível fascinar abusando de estereótipos ou acentuando as fantasias da criação . Nesses dois casos , pode-se fazer filmes totalmente desagradáveis . Quanto a mim , penso que é necessário chamar a atenção . Além disso , pode-se fazer um filme ideologicamente muito avançado usando os códigos inscritos na reação . Tudo depende do trabalho que se produz .
O filme de que estamos falando parece estar tocando nesta codificação , voltando-se para um estereótipo preciso , culturalmente ligado às massas , misturando a ópera ( sequência da calúnia ) e uma escrita tradicional do cinema de ficção , já subvertido pela linearidade da narrativa ( sequência de falsas pistas , ausência de planos referenciais ). Talvez nos aproximamos , por vezes , de um cinema popular político e crítico ? Talvez , mas para mim o filme deve ser visto também como a discussão inútil entre dois fracassados . O único que tem razão é o homem que é morto . O comissário quer imitálo , mas se depara com as suas próprias contradições . Embaraçado , ele não para de falar da sua vergonha . Já a personagem de Nero aceita a sua condição de peça da engrenagem . (...)
Damiano Damiani entrevistado por Noël Simsolo , Cinéma n º 164 , março de 1972 , pp . 43-52 .
Se alguém precisar medir o abismo que afasta a fixação tatibitati do novíssimo com o tema " política " de qualquer tentativa reflexiva de produção de um cinema político , está aí um bom começo . Ou : quem nasce para ruminar a indulgência de Kleber Mendonça-Fellipe Barbosa-Anna Muylaert para com os seus heróis positivos não chega jamais em Sergio Sollima-Damiano Damiani-Dino Risi , que desarticularam de forma espetacular as estruturas viciadas do filme de gênero para colocarem em xeque e enxergarem com nitidez justamente a estrutura viciada de toda a sociedade italiana ( a Itália como um interminável corredor de manicômio ) e a ( de ) composição do seu executivo-legislativojudiciário ( Confissões de um Comissário ..., Revolver , In nome del popolo italiano etc .).