Catálogo Cine FAP Primeiro Semestre de 2018 | Page 17

Trechos de: “Jodorowsky, o Extremo”, por Guilherme Martins. Íntegra: http://www.contracampo.com.br/82/festjodorowsky.htm Não é fácil suportar os filmes de Alejandro Jodorowsky. O cineasta chileno tem uma frase célebre em que diz que a maioria dos cineastas faz filmes com os olhos, ao passo que ele os faz com seus testículos. Por mais exagerada que a frase possa soar, é extremamente coerente com um certo sentido da obra de Jodorowsky, de um cinema em busca de seu lado mais instintivo de criação (ainda que ele os faça sem dúvida com os olhos, dada sua capacidade de criar imagens impressionantes em muitos sentidos). Seus filmes trabalham uma evolução interessante que está lá desde o começo de sua carreira, quando lida diretamente com parceiros mais próximos (como Fernando Arrabal), e vai, filme a filme passando a ser cada vez mais único e transgressivo. Por maiores que sejam as qualidades de Fando y Lis , seu primeiro longa, não é difícil desmerecê-lo como mais um filme decalcado de Buñuel. Muitos elementos que viriam a se solidificar como parte da obra jodorowskiana já estavam presentes, como o caminhar por um espaço indefinido, a idéia da narrativa ser uma espécie de jornada. Mas ainda é claro que trata-se de um cinema muito identificado com um movimento, o que pode ser uma camisa de força quando o cineasta é tão livre como Jodorowsky. Figura cheia de misticismos, o autor de El Topo sempre possuiu uma visão forte e particular sobre os relacionamentos, a família, e principalmente sobre religião. Seu fascínio pelas relações passionais entre amantes e familiares percorre toda sua obra. O amor de Fando e Lis é apenas uma amostra de algo que viria a ser cada vez mais explorado mais a frente. Em El topo vemos a essência do sentimento de Jodorowsky logo em sua abertura, sensacional, quando vemos o pistoleiro – interpretado pelo próprio cineasta – que cavalga em seu cavalo negro ao lado do filho nu, interpretado por seu próprio filho, e vem informá-lo de que já havia completado sete anos, e era agora um homem. Junto dos dizeres, uma ordem: enterrar seu primeiro brinquedo e um retrato de sua mãe. No próprio El Topo ainda existem outras imagens de relações passionais de maior interesse. Em meio a sua longa jornada, o pistoleiro El Topo irá em certo momento carregar consigo uma mulher que chamará de Mara. Depois de algum tempo juntos, ela lhe pede que prove seu amor enfrentando os quatro mestres do deserto, um desafio que ele aceita. A viagem pelo deserto, que começa como uma provação de amor, se desliga por completo deste sentido, tornando-se uma jornada para que ele se assuma de vez como uma figura divina. Já Mara passa a se sentir enciumada por uma