Catálogo Cine FAP Primeiro Semestre de 2017 | Page 17

Trechos de: “Humberto Mauro e a construção estética da imagem nos filmes do período do INCE”, por André Moncaio. Íntegra: http://www.mnemocine.com.br/aruanda/hmauroamoncaio.htm ―Humberto Mauro era antes de tudo um fotógrafo‖. Esta pode ser uma frase aparentemente exagerada caso seja lida sem profundidade. Alguns podem achar que ela ficaria melhor assim: ―Humberto Mauro era antes de tudo um brasileiro patriota‖. Afinal este cineasta foi considerado o pai do Cinema Novo por sua obra autoral, pelo seu modo de produção artesanal e por sempre tratar do Brasil em seus filmes. No entanto, ao observar cuidadosamente a obra de Humberto Mauro pode-se perceber que ele era, sim, ―antes de tudo um fotógrafo‖. E um fotógrafo no sentido mais amplo desta palavra: um criador de imagens que usa a câmera escura – esta máquina em constante transformação desde o século XV. Quem sabe o que virá depois das câmeras de alta definição? – para mostrar o mundo aos desatentos passageiros. Um indivíduo sempre observador e cuidadoso na composição de planos perfeitamente ―fotográficos‖ e de um cinema sutil e denso. [...] Sem desmercer a fundamental e criativa parceria destes profissionais na criação das imagens da obra cinematográfica de Mauro, percebe-se uma espécie de ―padrão estético‖ que percorre seus filmes. Um ―padrão‖ no sentido de recorrência e não de repetição obrigatória e vazia. O cuidado extremo e a simplicidade ao enquadra são características fortes de seus filmes - =e claro que foi se desenvolvendo a cada produção, mas desde o início pode-se perceber um olhar atento e criador – e o trabalho com a iluminação é também outra característica que se sobressai em alguns filmes, vistos os limites técnicos impostos pela produção conhecidamente ―artesanal‖ Por outro lado, é perceptível sua preferência pelo cenário rural e as tomadas em exteriores - nas quais parece ter melhores resultados - proporcionando ao espectador inúmeras e belas cenas. O cineasta quase se assemelha a um pintor paisagista pela técnica utilizada na composição dos planos. O INCE sem Humberto Mauro certamente teria sido um mero gerador de filmes maçantes e vazions sobre ciência e o cotidiano oficial da política brasileira. No entanto, este cineasta de Cataguases fez do INCE um fértil centro de produção de curtas e médias-metragens que carregam um brilho histórico. [...] Roquette-Pinto é o fundamental responsável pela liberdade poética que Maurto tem na produção dos filmes educativos do Instituto. A crença e a confiança no trabalho do colega permitiram que hoje nós tenhamos uma série de filmes importante na história do nosso cinema – não só documental – ainda que sejam esquecidos pelos críticos de cinema. São feitas muitas críticas ao engajamento do cineasta na estrutura do INCE e a seu trabalho tido como burocrático - que têm um lado verdadeiro. No entanto "(...) em meio à oficialidade, à ícones preestabelecidos (...)―, Humberto Mauro conseguiu injetar em seus 357 filmes no INCE - algumas vezes mais, outras menos - sua estética diferenciada.