Trecho de: “As Final Girls de Tobe Hooper”, por Alexandre Magno.
Tobe Hooper sempre perseguiu sua obsessão de construir uma experiência
estética renovada, para isso elege um gênero, o horror, com o qual flerta timidamente em seu
primeiro longa, Eggshells (1969), para depois deslanchar em uma carreira onde a apropriação
e compreensão do gênero é sempre transmutada para sua visão ímpar de mundo e
representação do horror.
Com isso em mente, há de se chegar a comparações entre os filmes de Hopper
e o objeto dentro do horror que lhe interessa estudar. Há dentro do horror o subgênero
Slasher, onde tradicionalmente os enredos giram em torno de assassinos inumanos que
perseguem avidamente suas vítimas, dentre elas encontra-se a Final Girl, personagem
virtuosa que será, como a designação sugere, a última vítima a sucumbir ao perseguidor ou
mesmo a única sobreviver ao final. Em seu trabalho que mais se aproxima de ser um filme de
gênero tradicional (digo isso com muitas ressalvas), Massacre da Serra Elétrica (The Texas
Chain Saw Massacre, 1974), a Final Girl é a única de seu grupo que sobrevive a um ataque de
Leatherface e consegue sair viva da casa da família, mesmo que coberta de sangue e tendo
de observar a estranha dança do antagonista, ficando claro a seu comprometimento com
aquele espaço e sua reação agressiva contra qualquer força estranha que tente profaná-lo. A
razão de ver neste filme um contato com as tradições do gênero está na aproximação da
figura de Leatherface com o assassino tradicional do Slasher e pela figura da Final Girl que
sobrevive amedrontada.
Já nesse filme, Hooper deixa bem clara sua abordagem fundamentalmente
diferente do mal retratado pelo gênero, não se tratam, como nos Slashers, de figuras que
encarnam o mal, mas de figuras tragadas por esse mal e impelidas a agir por influência deste
que se encontra nos espaços que estes “assassinos” habitam, é aí que reside sua grande
diferença de postura e a evidência mais clara disto se vê na trajetória trágica do que
chamaremos de Final Girl Hopperiana.
Estando o mal em Hopper contido nos espaços, os embates dos filmes serão
travados não entre Assassino – Final Girl, mas entre o espaço e seus agentes (figuras que
lembram os assassinos de Slasher, mas não passam de marionetes) contra a Final Girl. A
postura destas personagens ao longo dos filmes de Hopper apresenta certa progressão rumo
ao caos e a descrença completa de redenção daquele meio, culminando em um estranho
flerte da Final Girl Hopperiana por eles.