Trechos de: “Crítica: Os Invasores de Corpos”
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Ao longo do tempo, estúdios e produtores sempre quiseram valorizar
artisticamente o medo e o delírio das pessoas ao se depararem com uma invasão
alienígena. Os filmes apresentam valores de suas respectivas épocas embora
estes estejam impregnados de uma luta contra a opressão da liberdade e do
desenvolvimento promovidos pelos Estados Unidos. Enquanto Vampiros de
Almas mostrava seres humanos numa escravidão comunista fruto de uma
consciência paranoica da Guerra Fria, Os Invasores de Corpos avigora a queda da
civilização norte-americana sob as rédeas de alienígenas em busca de valores
tradicionais contra a contracultura dos anos 1960-70.
Kaufman e o roteirista W.D. Richter foram habilidosos ao não
transformar o filme apenas numa simples refilmagem. Há um ar de continuação
dos eventos de Vampiros de Almas. Apesar de ser igualmente baseada no livro
The Body Snatchers, de Jack Finney, a estória ganhou uma escala maior. A cidade
pequena quase rural deixa de ser cenário dando espaço para a metropolitana
São Francisco, palco de célebres eventos da contracultura da segunda metade do
século 20 regados à liberdade e à desobediência civil. Além disso, o roteiro
reforça o fato de que ninguém está imune a uma pandemia conspiratória e amplia
o “trabalho de formiga” dos humanos artificiais que fazem extensos passeios
pelas ruas a fim de disseminar sua nova cultura.
Os Invasores de Corpos pinta o medo da população de que um dia
possa retornar aquele valorizado modelo de vida norte-americano de anos
anteriores, mas tumultuado pela caça de pessoas por motivações políticas. Por
outro lado, o período retratado possui laços afetivos artificiais ou inexistentes
dentro de um panorama de desconfiança e descrença em relação às autoridades.
Considerando os dois tempos catastróficos, o futuro parece calcado à aniquilação
total do ser humano como toda a invasão alienígena se propõe a fazer no cinema.
Observação: Invasores de Corpos presta algumas homenagens a
Vampiros de Almas. Quando Elizabeth tenta definir a espécie da planta para
Geoffrey, a câmera aponta para uma veneziana com vidro transparente. Ali,
algumas folhas têm o formato dos casulos do filme original. Em outro momento, o
médico Milles Bennell (Kevin McCarthy) vociferando a presença dos alienígenas
em plena rua. Tal cena poderia induzir que Invasores não é um remake, mas uma
continuação, pois mesmo tendo sobrenomes iguais, os protagonistas (McCarthy e
Sutherland) têm nomes diferentes. Por fim, o diretor do filme original Don Siegel
aparece como um taxista.