Catálogo Cine FAP Cinema Francês Moderno | Página 12
Trechos de: “De punhos cerrados”, por Luiz Carlos Oliveira Jr.
(fragmento do texto “Toda a Tristeza do Mundo”)
Íntegra: http://www.revistainterludio.com.br/?p=3463
Pialat não foi um homem de muitos amigos. Não era uma figura agradável, não falava o
que os outros queriam ouvir, não fazia política. O episódio de Cannes em 1987, quando
subiu ao palco para receber a palma de ouro por Sob o Sol de Satã, é emblemático: tal
como ocorrera, alguns anos antes, com Robert Bresson, Pialat teve o “privilégio” de
receber um prêmio em Cannes debaixo de vaia. Sua reação? Com toda a calma do
mundo, disparou contra a plateia: “Vocês não gostam de mim, e posso dizer que também
não gosto de vocês”. Em seguida, cerrou o punho e socou o ar em sinal de vitória.
Hoje, Pialat recebe elogios de todas as partes, e sua importância na história do cinema é
incontestável (sempre foi, na verdade, a despeito de qualquer desavença pessoal). Ele é,
possivelmente, o cineasta francês mais influente dos últimos vinte ou trinta anos. Claire
Denis, Catherine Breillat, Mia Hansen-Love e Hou Hsiao-Hsien que o digam. Mais ainda:
Pialat garantiu seu lugar no panteão da cultura francesa como um todo. Aos Nossos
Amores já foi até incluído na lista dos filmes que os candidatos ao vestibular na França
precisam ver. Além de ler os grandes clássicos da literatura francesa, eles tinham de
assistir a um filme de Maurice Pialat.
Mas a verdade é que a obra do diretor de Aos Nossos Amores, para sobreviver em toda
sua intensidade, não pode ser transformada em peça de museu ou patrimônio da cultura;
ela deve permanecer ligada à violência existencial de que nasceu. A imagem que deve
ficar de Pialat é aquela vista no festival de Cannes de 1987: com os punhos cerrados,
enfrentando as vaias, mandando todos ao inferno. Não reconciliado.