Carolina Maria - Ano 1 - 1ª Edição - Maio/2019 Carolina Maria | Page 6
SARAU DA COOPERIFA: UMA CONEXÃO ENTRE
A PERIFERIA E A POESIA
Wellington Nascimento
“Sejam todos bem-vindos, aqui só não pode entrar racista e homofóbico”. E é levantando a
bandeira contra o preconceito que Sérgio Vaz, um dos idealizadores do Sarau da Cooperifa, inicia
mais uma noite de atividades poéticas no Bar do Zé Batidão, localizado no bairro do Jardim Guarujá,
zona sul de São Paulo. Sim, é isso mesmo! Todas as terças-feiras, das 20h às 22h, o bar se transforma
em um centro cultural que reúne dezenas de poetas da comunidade e região para compartilhar histó-
rias, experiências e ponto de vistas, todos transformados em lindas poesias. O amor pela poesia, pelo
próximo e pela vida também faz parte do repertório dos versos dos artistas locais.
O ambiente é muito acolhedor. A diversidade é uma marca do público em todos os encontros.
São crianças, jovens, adolescentes, adultos, idosos, mulheres, homens, negros, brancos, todos unidos
no único propósito de apreciar as apresentações. Por ser em um bar, a platéia pode escutar as estrofes
dos artistas saboreando o prato do dia da casa: Um escondidinho de carne seca, acompanhado de
uma boa cerveja gelada. Enquanto isso, os organizadores da Cooperifa anunciam os poetas, de todas
as idades, que vão se apresentar e que são recebidos com aplausos pelos espectadores. No momento
da apresentação, o silêncio é fundamental para todos entenderem a mensagem que está sendo trans-
mitida.
O projeto existe há 18 anos e sua visibilidade cresce cada vez mais. E sem dúvidas, a internet
é um fator que contribuiu para que mais artistas pudessem conhecê-lo Frequentador do sarau desde
2004, o morador do bairro do Piraporinha André Pereira, de 32 anos, comenta sobre o aumento do
público da Cooperifa depois da ascensão da internet: “A internet tem participação fundamental, a
grande questão é identificar o quanto isso é positivo ou negativo. O Sarau há 10 anos era mais silen-
cioso, com propostas mais reais. Hoje, por ser um popshow, você tem um fluxo maior de pessoas, que
é bom para alguns e ruins pra outros”.
Além disso, ele fala
da importância da internet
para as comunidades: “Se a
gente queria saber alguma
coisa da Cooperifa antiga-
mente, tinhamos que ir lá.
Hoje, além dos participan-
tes estarem muito conecta-
dos a rede, você tem víde-
os e acervos de divulgação
muito grande dos saraus e
de coletivos que praticam
atividades políticas, sociais,
culturais; que utilizam as
redes digitais como o Sarau
das mina. É importante para
uma parcela de jovens que
vivem nas periferias essa
disseminação cultural”.
Espaço para leitura no bar / Wellington Nascimento
O Sarau da Cooperifa possui blog, Instagram e a sua rede social mais ativa é o Facebook. Mas
nada se compara com a interação pessoal de sentir a verdadeira conexão entre a periferia e a poesia.
Ainda mais ao final das apresentações, em que todos compartilham um lindo momento: As pessoas
presentes no local recebem um papel na qual escrevem uma poesia e amarra-a no fio de uma bexiga.
Elas saem do bar e ficam concentradas ali fora, iniciando uma contagem regressiva que se inicia do
número 15. Quando termina a contagem, todos os balões são soltos e vão em direção ao céu. Ao
perder altitude, as bexigas cairão em algum lugar de São Paulo e levará para várias pessoas uma
anônima mensagem poética. O encontro acontece na Rua Bartolomeu dos Santos, n°797 - Jardim
Guarujá, São Paulo.
Em 2011, a ONU (Organizações das Na-
ções Unidas) declarou que o acesso a internet é
um direito humano. Porém, o investimento di-
gital nas periferias está longe de ser uma reali-
dade. Pelo menos é o que acredita o Doutor em
Ciências Sociais, Marco Antônio Bin, em rela-
ção ao atual governo: “Eles não têm a menor
preocupação com cultura, com projetos sociais,
com mobilização social e com as periferias. Se
os jovens quiserem alguma coisa, vão ter que
sair atrás”, disse o especialista fazendo referên-
cia a coletivos como o da Cooperifa.
Artista se apresentando no sarau / Wellington Nascimento
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Como há 10 anos existiam poucos saraus
e a influência digital era inédita para esses gru-
pos, Marco analisa essa transição para o atual
com o impacto da tecnologia nesses movimen-
tos: “A importância da inclusão digital é que
ela facilita a comunicação e as possibilidades
de contato. Isso é muito importante para que o
jovem e esses grupos mantenham uma diversi-
dade nas suas atividades e que enriqueçam-as”.
MAIO 2019
Carolina Maria
Pessoas soltam balões com poesias / Wellington Nascimento
Carolina Maria
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