Carolina Maria - Ano 1 - 1ª Edição - Maio/2019 Carolina Maria | Page 20
Há um ano com o es-
dor. Ele atuava como auxiliar de TI na Bol-
túdio aberto, os pensamen-
sa de Valores e fazia viagens recorrentes ao
tos de largar tudo e voltar
Paraguai de onde trazia mercadorias para re-
ao mercado de trabalho, são
vender. Um dia resolveu criar um plano B. Se
recorrentes. “Empreender é
antes nunca teve vontade de ser empreende-
muito mais difícil”. A jovem
dor, hoje simplesmente não se vê como CLT.
conta que não gosta de man-
Tiago um dia resolveu vender lâmpa-
dar, não tem esse perfil. Ela
das
de
LED pelo mercado livre. Sua ambição
acha muito difícil delegar e
inicial
era vender pelo menos R$ 200 reais
aceitar o trabalho realizado
por
mês:
“Se der para pagar um boleto, já
por terceiros: “ter patrão era
ajuda”.
Porém,
vendendo mercadorias onli-
bom, porque ele mandou e
ne
que
tinha
valor
baixo, em média de R$ 1
era só seguir. Você ser chefe
real,
ele
começou
a
ganhar mais do que no
de alguém é muito mais difí-
seu
trabalho.
cil.” Ainda assim deixa claro
que nunca gostou de traba-
“Era plano B, mas foi aumentando. Eu fiquei um ano
lhar para os outros. Hoje,
só investindo na loja e sem usar a grana.” O microempresário
além das tatuagens
saiu de férias e trabalhou o mês todo na loja
a ela faz artesana-
online, mas era um trabalho diferente: “Ga-
tos para vender: “Eu
nhava mais, não tinha chefe chato e nem dis-
sempre tentei várias
tância. O pior sempre foi a condução. Todo
Eu sempre tive vontade
coisas”.
dia duas horas, ida e volta”. Ele sofria daqui-
“
Para Ênua ter
um curso de admi-
nistração é obrigação
para empreendedor.
“Todo mundo que
quer
empreender,
precisa de um curso
de
administração,
para ontem”. Silva-
na, elucida o porquê dessa
necessidade: “Ele vem com
a energia toda da juventude,
mas precisa saber que pla-
nejar é essencial, é diferen-
te quando você sabe o risco
que corre”, foi assim que
Tiago, pediu demissão da
Bolsa de Valores para tomar
conta do seu projeto, mesmo
sabendo de todos os riscos.
Coragem para arriscar
Tiago Pereira tem 34
e é morador de Itaquera —
zona leste de São Paulo. Ele
não está nessa lista, apenas
pela faixa etária em que se
encontra, mas sim pelo seu
sucesso como empreende-
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“
de sair de São Paulo ou
morar perto do metrô.
Era um objetivo de vida.
Mas com a lojinha eu
me dei conta que posso
morar em qualquer lugar.
Tiago Pereira
Tiago em sua pizzaria
/ Tâmara Santos
não dá uma resposta de fato. Quando reformulo a pergunta
e lhe questiono se voltaria a ser funcionário, ele é categóri-
co: “Eu não me vejo mais como CLT”. Ele me conta então
um pouco da sua visão sobre a época em que trabalhou
na Bolsa. “O cara mais pica ganhava 15 pau por mês e já
estava há 10 anos lá. Os profissionais davam o sangue e
estavam sempre disponíveis. Tem que estar antenado no
fim de semana, 24 horas”. Ainda segundo Tiago, eles ga-
nham muito dinheiro, mas o nível de comprometimento
Tiago Pereira /Arquivo pessoal
é enorme. “Era muito stress. Para chegar no nível desses
caras, vou ter de trabalhar aqui 20 anos. Vou dar o sangue,
vai zuar minha e saúde e todo o resto. Na minha lojinha em 5 anos eu conseguiria
atingir os salários dos caras. E a qualidade de vida?!”. Por isso, apesar das “desvan-
tagens” não pensa um segundo em voltar atrás.
Não existe fórmula perfeita, mas como demonstra Silvana para dar vida a essas narrativas, é
essencial “entender bem o seu sonho”, planejar, estudar e não ter medo de lançar-se às novas expe-
riências. Para os jovens periféricos é necessário ainda coragem para correr atrás dos seus objetivos.
Os cursos ministrados por Silvana, por exemplo, não atende a toda rede pública, estando disponível
apenas em algumas escolas estaduais. Segundo a analista existe uma proposta para que essa matéria
passe a fazer parte da grade curricular da rede municipal.
lo que quase todo morador da Zona Leste so-
fre, transporte público.
Tiago ficou mais um ano investindo
na loja antes de pedir as contas. Encabulado
ele conta um dos pensamentos que ajudaram
na tomada da decisão “Eu ficava pensando:
aqui eu nunca vou ficar rico. Sendo empresá-
rio eu tenho mais chance de ficar”. Após sair
da bolsa, o plano B virou A e Tiago não deu por satisfeito até
conseguir outro plano B. “O plano B, a lojinha, virou plano
A. Então eu precisava de um novo plano B. Conversando com
meu sócio, surgiu a ideia e eu resolvi investir”, foi assim que
em um convite feito pelo seu atual sócio, João Jaime,31, que
ele resolveu investir na pizzaria que tem na região do 65 na
Cidade Tiradentes.
A loja online funcionava desde 2013, porém no ano de
2018 sofreu uma grande queda com a mudança nas políticas
de vendas do Mercado Livre. “Minha loja hoje está falida e
o plano B, virou A”. Assim a pizzaria hoje é a sua principal
fonte de renda. Tiago me fala que começou a trabalhar com
frequência na pizzaria apenas esse ano, antes ele trabalhava
apenas de final se semana. “Demos uma enxugada no quadro
de funcionários, então agora eu tenho que vir direto”. Antes
sua responsabilidade era mais administrativa.
O grande movimento da pizzaria acontece nos finais de
semana quando somando os freelancers coordena uma equipe
de 15 pessoas. Pergunto como é ser patrão no Brasil. Ele enro-
la para responder, balbucia algo como “é imposto”, contudo,
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