Carolina Maria - Ano 1 - 1ª Edição - Maio/2019 Carolina Maria | Page 18

Júnior e sua filha, Anna Luíza / Tâmara Santos tinha deixado a escola em 2015, quando ainda cursava o primeiro ano do ensino médio. O técnico de celular explica que lidar com o público foi seu maior incenti- vo para voltar a estudar. “Você vê pessoas chorando para gastar R$ 100 re- ais e gente gastando mil, dando risada. Você coloca na cabeça que você precisa de mais, que merece mais. Ver isso me incen- Os outros nunca reconhecem tivou a querer crescer na vida”. aquilo que você faz “ “ Júnior que é pai de uma Jamille Anselmo menina de 1 ano e 5 meses, con- ta que não disse a ninguém sobre seus planos. Não por receio da família, mas por considerar-se mais reservado. Hoje conta com apoio incondicional da sua esposa, Fabia- ne, 21, e de sua mãe: “eu acho que ela tem orgulho. Porque indica cliente demais”. Ao falar do local onde aprendeu sua profissão, é categórico “Sou muito grato ao meu ex-patrão, ele me ensinou uma profissão”. Hoje, os dois são concor- rentes. Trabalham em galerias diferentes, entretanto, no mesmo ramo. Depois de seis meses com o empreendimento, os Questionado sobre como se vê no futuro, responde: “Me vejo com experi- ência, sabendo lidar bem com pessoas de outras classes sociais. Hoje eu converso bem, de uma forma que não sabia dialogar a cinco anos atrás. Me vejo com a vida estruturada, vivendo bem”. Silvana res- salta que o “Jovem tem uma vantagem sobre o empresário que já está a algum tempo no merca- do. Ele provavelmente passou por algum tipo de educação empreen- dedora. Seja no funda- mental, no médio ou na faculdade”. Essa não é a realidade de Júnior, que não teve um contato anterior com o empreendedorismo e que afirma não saber o que é SEBRAE. Dife- rente dele, a pedagoga Jamille Anselmo, 26, tem formação um pouco mais voltada para o empreendedorismo. Ela tem um técnico em administração. Coragem para mudar Jamille define-se como “mimada”. Já deu aula no CEU Alto Alegre e já foi funcionária do Banco do Brasil. Sua car- reira como empreendedora começa com aulas de tutoria para crianças com dificul- dade de aprendizado, quando montou um 18 MAIO 2019 Jamille Anselmo em sua loja / Tâmara Santos Carolina Maria espaço para esse tipo de aten- dimento. Porém a sua grande aposta está na loja de roupas que abriu há cinco meses, na Av. dos Têxteis — Cidade Ti- radentes. onde tem seu estúdio de tatuagem, próximo a Av. dos Metalúrgicos. Quando explico o enfoque da matéria, Ênua se espanta por estar na O principal motivo para minha lista e questiona deixar a profissão que esco- se ainda é considerada jo- lheu foi a liberdade que teria vem. Após minha afirma- sendo comerciante, que não ti- tiva, diz não sentir-se mais Ênua posa com quadros feitos por ela / assim. Mãe de uma meni- nha como pedagoga. Para a jo- Tâmara Santos vem, quando trabalha-se para na de sete anos, ajuda na os outros você nunca se sente renda da casa onde mora reconhecido como acha que merece. “Quando você trabalha com seu irmão e sua mãe. para si, você está vendo ali o seu crescimento a todo momento. O caminho percorrido Ser patrão é ter o controle, e eu sempre tive essa rumo à independência come- personalidade, de tomar a frente, ter iniciativa. ça no shopping Tatuapé “Eu Então não é difícil para mim”, contudo, quando comecei a ver que eles tira- se fala em tomar conta do dinheiro, a história vam um dinheiro muito gran- muda totalmente. Ela morre de medo de trocar de em cima de mim. Cheguei os pés pelas mãos e brinca “como vou adminis- a conclusão que economizan- trar tudo isso?” do conseguiria abrir aqui”. E é nesse momento que fica claro que No local onde a tatuadora de mimada ela não tem nada. Tem, na verdade, trabalhava a máquina era muito controle e é ciente dos seus objetivos. Ja- do tatuador: “Assim, pelo mille não tem responsabilidade de sustentar a menos o equipamento eu já sua casa, ainda mora com os pais “Meu dinheiro tinha um pouco. Eu pagava é mais meu, do que é para minha casa. São mi- uma porcentagem e o (valor mos(a ajuda que forneço), não é uma responsa- dos) equipamento estavam bilidade”. inclusos”. Para abrir o seu estúdio Ênua Recebendo “total apoio” comprou apenas o possível por parte dos seus pais, a que a loja oferecia, microempresária não teve dúvidas pagou o aluguel do na hora de pegar a loja. Silvana, Eu nunca Jamille Anselmo / Tâmara Santos mês e já começou gostei de trabalhar faz um balanço sobre as caracte- a trabalhar. Com- para os outros. rísticas que podem ajudar no pro- Ênua Araújo prou o material que cesso de tornar-se um empreendedor de sucesso: faltava conforme ia “Que ele enxergue o negócio não apenas como lucrando pelos seus uma maneira de lucrar. Mas sim, como uma ma- trabalhos. neira de ajudar a sociedade. Se conseguir juntar a energia que tem, com essa vontade de dar certo e também mobilizando para que algo na sociedade melhore, a probabilidade ter um ganho, é sensacional”. “ “ quatro sócios sentaram e discutiram so- bre o rumo da loja. Chegaram a conclu- são que quatro pessoas para mandar em uma coisa só era gente demais. Assim decidiram dividir a sociedade. Júnior e o William ficaram com a loja. “Ninguém teve prejuízo, só que não dava mesmo para chegar a um acordo, tínhamos di- vergências”, mas apesar de a loja não ter dado certo em comunhão, a amizade se mantém: “Corto o cabelo todos os sába- dos, no mesmo lugar”. Coragem para sair do conforto “Eu estava no shopping (trabalhando) e não conse- guia atender as pessoas que sempre me ajudaram, meus vi- zinhos o pessoal que mora aqui no bairro. Os valores eram altos para eles e não era próximo. Eu queria atender eles!”, explica Ênua Araújo, 29, moradora da Cidade Tiradentes, Carolina Maria MAIO 2019 19 Estúdio de Ênua Araújo / Tâmara Santos