Carolina Maria - Ano 1 - 1ª Edição - Maio/2019 Carolina Maria | Page 16
a culinária brasileira e junta o dinheiro necessário”, lembra Sabrina.
Coragem para tornar sonhos realidade
Tâmara Santos
“As empresas são as responsáveis por fazer a roda da economia girar. Se eu não tenho empresa,
não tenho recolhimento de impostos, nem empregabilidade”, segundo Silvana essa é a importância
de uma empresa para o seu país. Mas no extremo leste de São Paulo o empreendedorismo é
combustível para transformar não apenas o Brasil, mas também a realidade de jovens periféricos
Sua mãe tem saúde debilitada, sua irmã descobriu um câncer. Ela estudava psicologia e tra-
balhava em RH. De repente, deu conta que não suportava mais exercer essa função, mas como pro-
vedora da principal renda de sua família, não tinha como se desvencilhar do trabalho. Foi desgaste
psicológico e físico até que finalmente pudesse optar por
sair. Nesse momento, tem um “insight” e resolve mudar
totalmente o rumo da sua vida.
Coragem para sonhar
Sabrina Lima Hora tem 21 anos e é moradora do
Jardim Helena, em São Miguel. Em fevereiro deste ano,
tirou um plano do papel e abriu sua marmiteria. “Minha
ideia inicial, não foi a marmiteria. Essa foi uma adapta-
ção da minha mãe para o que eu sonhei. Eu quero mesmo
é abrir um bar brasileiro, em Portugal”. A jovem explica
que sua mãe riu quando ela contou seus
planos, contudo, que percebeu que era
real quando ela chegou em casa com o
F oi insite, eu estava
passaporte.
“
“
Sua mãe, Eliezia Lima, 52,
a sua maior incentivadora é em-
preendedora nata, “sempre teve
esse espírito empreendedor aqui
em casa”. O salão de cabeleireiro,
fonte de renda para família, estava
com poucas clientes, então veio a
adaptação para a ideia: “Vamos
abrir uma marmiteria. Você ganha
experiência com restaurantes, com
MAIO 2019
Ensinando coragem em forma de empreendedorismo
Está crescendo o número de jovens empreendedores no Brasil, “compa-
rado a anos anteriores cresceu em 17%”, confirma Silvana Menta, 40, analista
do Sebrae há 8 anos. Ela explica que esses números são da pesquisa GEM, que
qualifica ainda como jovens aqueles que estão entre 18 e 34 anos.
Silvana fala que a principal diferença entre o jovem e o empresário mais
antigo no mercado, é que o jovem “É muito mais arrojado”. Responsável pela
Unidade de Cultura Empreendedora, a analista ministra cursos para professores,
jovens que estão entre 15 e 18 anos e universitários, todos os cursos são volta-
dos para a aplicação do empreendedorismo. “O principal objetivo da Educação
Empreendedora é de libertar o aluno, no sentido de que ele tenha condições de
escolher qual caminho quer seguir”. Sabrina não teve essa formação, ela busca
um curso de especialização em bar e restaurantes no SENAC, que pertence ao
Sistema S, assim como SEBRAE, SENAI, SESC e etc.
“
Eu fazia as mesmas
coisas antes, mas
eu não tinha as
preocupações que
eu tenho hoje.
Ademário Júnior
Além do sonho arrojado, Sabrina possui outras características importantes para Silvana, como:
“É preciso acreditar no seu sonho e trazer isso para a realidade com um bom planejamento”. Quem
também acreditou nos seus sonhos, planejou e deixou o trabalho formal para trás, foi o jovem Ade-
mário Júnior, 21, morador da Cidade Tiradentes.
cansada do meu
Quando questiono porque a esco-
emprego.
lha de Portugal, ela conta: “eu percebi
Sabrina Lima Hora
que era muito mais possível abrir um ne-
Sabrina Lima Hora / Tâmara Santos gócio lá, que aqui”. A realidade de jovem
periférica, “que não tem condições financeiras”, impossi-
bilita que eu realize esse sonho no Brasil. Sabrina fala um
pouco sobre a pesquisa que fez para sua viagem: “eles buscam pessoas que querem abrir negócios no
país. As universidades estão cheias de brasileiros.” Segundo a jovem, apesar desse público gigante,
não existem restaurantes brasileiros para matar a saudade de casa.
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Silvana Menta /Arquivo pessoal
“
Como estudante de jornalismo, eu ainda sou pega de surpresa pelos entrevistados. É só desligar
a câmera, baixar o microfone, ou salvar o áudio no gravador, que vem as melhores aspas. Foi assim,
que caminhando para levar-me ao ponto de ônibus, Sabrina, me contou toda sua saga na empreitada
como jovem empreendedora.
“Faz um mês que estamos funcionando, e em 3 semanas con-
seguimos repor o investimento inicial.” Sabrina relata que tem dias
que levanta, prepara o arroz e feijão e não tem pedidos. O empreen-
dimento funciona na cozinha de sua casa, as entregas são feitas de
carro, por ela e a sua mãe. São sempre as duas, unidas. Junto com
tudo que deixou para trás, a jovem deixou também a psicologia.
Agora sonha em cursar gastronomia, passou no Enem de 2018, mas
não conseguiu se matricular a tempo, por conta da burocracia com
as papeladas.
Carolina Maria
Sabrina e sua mãe, Eliezia Lima, durante um dia de trabalho / Arquivo Pessoal
Coragem para Vencer
Super vaidoso, a história do
novo empreendimento de Júnior não
podia ter cenário melhor, que o salão
de cabeleireiro. Em uma tarde de sá-
bado, ele e seu atual sócio, William
Santos, 21, estavam na fila para ser
atendidos. Eles cortam o cabelo no
mesmo lugar, desde seus cinco anos
de idade. Com essa cumplicidade de
quem já se conheciam, eles falavam
com entusiasmo sobre o trabalho que
exerciam “Sabe quando você gosta de
algo? Com três meses eu tinha apren-
dido tudo, a montar e desmontar um
celular”. O Cabeleireiro Neto e um
outro parceiro dos meninos, o Wen-
dell, questionaram se era um bom
negócio para investir. Com a resposta
Carolina Maria
afirmativa então propuseram: “Entramos com o di-
nheiro e vocês com a mão de obra”, conta Júnior.
E foi assim que
na manhã de segunda-
-feira eles pediram as
contas e foram atrás de
um box na Santa Ifi-
gênia - Centro de São
Paulo para montar o
negócio: Uma loja de
manutenção de celular.
Há um ano e quatro me-
ses com a loja aberta,
Júnior explica que sua
vida mudou totalmente.
Não apenas em ques-
tão financeira, o jovem
MAIO 2019
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Ademário Júnior / Arquivo pessoal