Carolina Maria - Ano 1 - 1ª Edição - Maio/2019 Carolina Maria | Page 12
Conquistando sonhos no tatame
Carolina Messias
Ao contrário da maioria das meninas, ela escolheu lutar judô ao invés do
ballet. O motivo? Era considerada mais agressiva que as outras dançarinas
Contando sempre com o apoio dos pais, a pequena menina nascida e
criada no extremo sul da capital Paulista, descobriu seu gosto pelo judô após
perceber que as aulas de ballet oferecidas pelo colégio em que estudava não lhe
agradavam muito.
A judoca Ketelyn Araújo Nascimento de 21 anos ou apenas Nascimento,
como está escrito em seu kimono azul, percebeu ainda pequena com a ajuda da
sua agressividade notoriamente maior do que as outras meninas de collant que
seguravam na barra e faziam pliés que aquele espaço não lhe pertencia, por mais
que todos diziam que “aquilo era coisa de menina”. Desistiu do coque perfeito
e dos movimentos sincronizados e foi assistir a uma aula de judô que tam-
bém era oferecida no mesmo local. O resultado não foi outro: se apai-
xonou pela arte marcial, pediu aos pais que a deixassem treinar e como
diz “fui pegando gosto pelo judô, foi assim que adentrei nesse mundo. ”
Não demorou muito para que seu talento fosse notado pelo sensei
do colégio, que a convidou a ir lutar em sua academia particular. Ela con-
fessa que nessa época não era muito boa, foi federada algum tempo depois
e começou a ir a campeonatos. Em uma des-
Se você ficar pen-
sas idas e vindas em lutas, uma competição
na cidade de Santa Catarina, ganhou dois pre- sando só no passado, nun-
sentes de uma vez: foi para o pódio com muita ca vai ver seu futuro e vai
alegria em terceiro lugar. E neste mesmo lu- ficar estagnada.
gar, havia técnicos do clube Palmeiras que a
convidaram para ir treinar no clube do time.
“
“
Força, luta e coragem
Entre os anos de 2009 e 2010 perdeu seu pai em um acidente de
carro. “Foi a gota d’agua para mim, não queria estudar nem fazer judô. Não
conseguia pensar em nada. Daí minha mãe veio e me disse a seguinte frase
´Se você ficar pensando só no passado, nunca vai ver seu futuro e vai
ficar estagnada´ aquilo foi um choque pra mim e me motivou a continuar
no judô. ”
Contando sempre com a ajuda de sua mãe guerreira, continuou seus
estudos e também no esporte. Já no clube Palmeiras, em 2013 foi campeã
Paulista Estudantil e conseguiu uma vaga em outra competição na cidade de
Minas Gerais, mas não conseguiu chegar ao pódio. “Sempre era motivacional
ir mal na competição porque eu teria que voltar para conseguir uma classifi-
cação melhor ” ao contrário de muitos competidores, perder para ela nunca
foi um problema.
Após muita luta e dedicação ao esporte que tanto ama, a judoca
conseguiu entrar para um projeto do Governo: mudou-se para o alo-
jamento no Ibirapuera e voltava para casa somente aos finais de se-
mana para seu bairro de origem no extremo sul da cidade, Grajaú.
Os treinos ficaram mais pesados e a força de vontade triplicava de
tamanho “depois que entrei nesse projeto, comecei a evoluir para
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nível competitivo. No Palmeiras eu treinava duas
horas, duas vezes na semana, isso quando eu ia.
No projeto comecei a treinar duas vezes por dia,
duas horas por treino de segunda à sexta. ”
Apesar de sua cara de mal, nesse projeto
conheceu sua amiga Vanessa “quando ela chegou
de cara pensei “meu Deus, essa menina deve ser
muito forte, olha o tamanho desses braços” (e não
é que eu estava certa?!). Chegou quietinha, ficou
na dela e só no segundo dia que começamos a ter
um pouco mais de contato.”
Parece que o jogo virou, não é mesmo?!
Como era de se esperar e com base em seu
talento nato foi competir em uma seletiva nacio-
nal, mas desta vez estava sem muitas convicções.
Como o destino gosta de pregar peças, conseguiu
um resultado surpreendente e começou a viajar
para fora do país no Circuito Europeu.
conta com o apoio da Vanessa quando vai
lutar representando o país “A Kety é um
dos maiores presentes que o judô me deu.
Pra mim ela é um exemplo de humildade,
bom humor, trabalho duro, foco, deter-
minação, de que sua vontade tem que ser
maior que seus problemas, de que quem
quer faz, quem não quer dá desculpa.
Fico muito orgulhosa quando ela é
convocada para as competições para re-
presentar o Brasil, e já virou “tradição”
mandar uma mensagem antes dela lutar
dizendo o quanto a amo e desejo o seu
sucesso, mas que independente do resul-
tado estaremos juntas. Eu espero que essa
“tradição” continue por longos anos, por-
que eu tenho absoluta certeza de que ela
é capaz de chegar a lugares ainda mais
altos. ”
Não conseguiu medalhas na categoria in-
dividual, mas deixou sua marca na competição
no mundial de equipes. A atleta é campeã Pan-
-americana, Sul-americana, Europeu na Áustria
em 2017, foi vice-campeã em Berlim e ficou em
terceiro lugar em Bed na Alemanha.
Como sempre, todas as lutas servem de
aprendizagem e não foi diferente com as lutas na
Europa. Os biótipos das outras competidoras são
bem diferentes das brasileiras. Elas são mais altas
e magras e dificultam a movimentação ao aplicar
os golpes.
Colhendo frutos
Atualmente cursa licenciatura em Educa-
ção Física, por conta do esporte que tanto ama e
se dedica. Há pouco tempo entrou no exército e
tem planos de prestar concurso para crescer den-
tro da corporação.
Dona Telma, a mãe muito orgulhosa agra-
dece a Deus por ter dado oportunidade de fazê-la
vencedora pois “eu como conhecedora da palavra
sempre apresentei a vida da Ketelyn para Deus.
Como mãe e pai sinto orgulho de vê-la vencendo
a cada dia, buscando ser melhor e aperfeiçoando
as suas técnicas e, principalmente, respeitando os
seus adversários. ”
Além do apoio de sua mãe, a atleta também
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