Caderno de Resumo do III SIICS Caderno de Resumos do III SIICS | Page 277

Página | 277 O POETA COMO UM FINGIDOR: A PRESENÇA PESSOANA NA POESIA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA Fernanda Castro de Souza Abreu (UFMA) Orientador: Dr. Rafael Campos Quevedo (UFMA) RESUMO: O tema do fingimento poético, eternizado por Fernando Pessoa em seu poema “Autopsicografia”, baseia-se na racionalização do sentimento, ou seja, o poema é fruto de um processo cerebral que, portanto, não pode ser construído em um momento de emoção e sim de recordação da emoção. O tema não é novo, Aristóteles, na Poética, já expôs que não é função do poeta contar os fatos justamente como eles são, mas sim aquilo que poderia ser real, possível de acontecer, seguindo uma verossimilhança. Assim sendo, a poesia resulta não necessariamente do sentimento vivido, mas da representação dele, uma construção mental do mesmo. Sendo, pois, o poema, não uma exposição do que se sente, mas a (re)criação intelectual do sentimento, a elaboração do poema configura-se como um fingimento. Tendo por base esses pressupostos, a presente comunicação objetiva discutir a questão do fingimento em dois poemas contemporâneos brasileiros, o “Balada do impostor”, poema do poeta mineiro Geraldo Carneiro (2006) presente na obra que leva o mesmo nome do poema de análise, e “Labor”, presente no livro O mapa da tribo (2013) de autoria do poeta maranhense Salgado Maranhão. Como fruto de um processo inteiramente racional, o uso da pura emoção para o fazer literário, como era comum nos poetas de filiação Romântica, por exemplo, aqui se torna incabível, utilizando-se em seu lugar a racionalização dessa emoção. Para fundamentar as análises realizadas, foram empregados os seguintes referenciais teóricos: A Herança de Apolo: poesia, poeta, poema (2012) de Geraldo Cavalcanti, Literatura Latina (2009) de Paulo Martins e Teoria da literatura e metodologia dos estudos literários (2003) de René Wellek. Foi possível perceber nesses poemas, portanto, uma resistência às tendências de ruptura, tendo em vista a presença da reelaboração de um tema eternizado da tradição em poemas publicados no século XXI, com o tema do fingimento poético eternizado pelo poeta português Fernando Pessoa. Palavras-chave: Fingimento poético; Poesia contemporânea; Autopsicografia.