C U V E T E 2017 | Page 65

A investigação artística que tenho vindo a desenvolver parte de um estudo da Paisagem enquanto processo – de encontro natural a construção simbólica.

Da incorporação de manifestações e poesias naturais à sua posterior reencenação, procuro diferentes modos de estabelecer e veicular relações com a Natureza, associando a sua capacidade geradora ao processo artístico de criação de imagens. Assumindo um modo de investigação mutável, é no Mar que encontro o motivo de análise e origem de uma fluidez criativa.

O projeto “Impressões marítimas” (2015-2017) resulta de um processo repetido de envolvimento natural, dado por uma imersão no mar (Oceano Atlântico), em diferentes momentos e com diferentes meios. Com o intuito de captar imagens de entre o contínuo fluxo das ondas, entro no mar com um suporte tintado – as ondas removem alguma tinta do suporte, deixando a sua impressão. As imagens resultantes têm uma coincidência direta com as formas assumidas pela onda no momento específico do impacto, criadas pelo contacto/toque ultrapassam a condição de representação para se assumirem como a apresentação da sua ação. Tornam-se, deste modo, simultaneamente, um documento da minha imersão e uma transferência simbólica do ato criativo para a Natureza, e o meu corpo um veículo para que a imagem natural apareça.

Numa fase posterior deste processo, uma nova inserção no fluxo marítimo dá-se através da introdução de heliografias e fotogramas. À distância, pensa-se na possibilidade de criar múltiplos, de dar continuidade às ondas recolhidas, para além do momento de encontro inicial.

Na experiência de tais trabalhos procura-se a identificação com padrões naturais de interação, desde o processo de produção à construção de narrativas imagéticas. Na intenção de promover diferentes modos de estar na Natureza, a incorporação de processos de criação de imagens que consideram a agência natural permite-me repensar relações de distanciamento, dando lugar a relações de continuidade ontológica.

Joana Patrão