Recorrendo a vivências e memórias pessoais foi procurado assimilar as obras desenvolvidas num contexto de validação e descoberta de identidade. O corpo de trabalho é centrado na aceitação da dualidade entre o sentimento de conexão e repulsa, numa procura do âmago das questões fenomenológico-existenciais continuamente pospostas ao longo do tempo, por estas apontarem para o impróprio e o inconveniente. A ideia do feio desperta o lado mais cru da nossa relação com o mundo; o angustiante, o escandaloso ou o desequilibrado, criam um confronto pessoal com as nossas características mais oprimidas. “Isso nao se faz que é feio”. Que mania de embelezar a realidade...
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O apego surge perante dois contrários; a melancolia e nostalgia da continuidade do ser e a da descontinuidade da vida. O apego ao ser levou á sua recolha, estima epreservação numa tentativa de enaltecimento. Uma natureza morta literal. A simulação do corpo morto na série presente tornou-se mais identificável, convidando a uma aproximação da peça. A articulação intrínseca leva a uma dupla leitura, a escultura funciona como um véu frente ao real; o cadáver, a morte e a sua imagem. Deixa apenas pressentir o rosto da realidade. Como alegoria do corpo, convida a observar a nudez e fragilidade num reconhecimento de identidade própria perante o mundo. A dor íntima dialoga com o observador, numa relação entre vida e morte, a intimidade e provocação e confronto ambíguo entre algo que é intrínseco mas repulsivo.
Olga Naamá