Camões, IP edita “A Construção secular de uma identidade
étnica transnacional: a cabo-verdianidade”, tese vencedora
do Prémio Fernão Mendes Pinto 2012
A
tese de doutoramento “A Construção secular de uma
identidade étnica transnacional: a cabo-verdianidade”, de Pedro Manuel Rodrigues da Silva Madeira Góis, vencedor da 5ª edição do Prémio Fernão Mendes
Pinto, acaba de ser editada pelo Camões, Instituto Português
(IP).
O Prémio Fernão Mendes Pinto é atribuído anualmente
desde 2008 pela Associação das Universidades de Língua
Portuguesa (AULP), destinando-se a galardoar uma dissertação de mestrado ou doutoramento que contribua para a
aproximação das comunidades de língua portuguesa e que
explicite relações entre comunidades de, pelo menos, dois
países. A distinção compreende um valor pecuniário atribuído numa parceria conjunta entre a AULP e a Comunidade
de Países Língua Portuguesa (CPLP), bem como a edição da
tese, a realizar pelo Camões, IP.
Esta investigação procura responder o que é ser «cabo-verdiano».
«Iniciado o processo de investigação fui navegando
várias ideias e entranhando a resposta: afinal Cabo Verde
não era (apenas) uma nação mas uma transnação. A identidade dos seus constituintes era construída no interior do
arquipélago de Cabo Verde (era e é uma identidade póscolonial em construção) e fora de Cabo Verde em cada uma
das ilhas do seu arquipélago migratório. Se tomássemos em
consideração o peso relativo das populações dentro e fora
de Cabo Verde percebíamos que a nação da «nha terra» e a
da «terra longe» se influenciavam mutuamente.
(...) A identidade (étnica) transnacional é, penso agora,
uma singularidade de nações como a cabo-verdiana que se
construíram em contacto com o mundo e que não hesitaram em transgredir o fechamento grupal tradicional. A emigração contínua e continuada ao logo de dois séculos foi
essencial para este resultado. A geografia dos destinos migratórios providenciou uma diversidade de contactos que
se revelou matricial para a construção identitária. Ao aceitarem o «outro», ao reagirem ao confronto com o «outro»
em múltiplas geografias, transformaram uma identidade
nacional numa identidade capaz de funcionar em mais do
que um plano. Ao integrarem influências do arquipélago
migratório como parte da sua identidade tornaram-se um
caso interessante de uma identidade ao mesmo tempo singular e global.
É desta história que fala o presente volume. A origem
deste trabalho é facilmente apreensível: uma tese de doutoramento em Sociologia na Universidade de Coimbra. A
forma como está escrita denota uma incapacidade de simplificar o que (sempre) sentimos que é complexo. Abundam
as referências teóricas, a ancoragem em autores e nos seus
conceitos, a tentativa de criar teoria a partir da realidade. A
densidade da escrita reduz, necessariamente, o alcance da
obra mas a ausência desta densidade faria perecer os seus
objetivos. Ainda assim, o texto deste livro resume as principais argumentações da tese original e reduz e simplifica a
conceptualização, a teoria e o resultado do «trabalho de
campo» então apresentado.
Ao reduzir o texto perdem-se ideias e contraditório.
O Prémio Fernão Mendes Pinto outorgado à tese original
possibilita a sua edição e, temos fé, acrescenta leitores ao
texto. Ao mesmo tempo, porém, responsabiliza o autor
que doravante terá que fazer um esforço maior de explicitação dos conceitos e garantir ao leitor que este é
um tema importante para uma peregrinação intelectual.
Esta é apenas uma contribuição para um debate e não
pretende, em caso algum, esgotar um tema. Não tendo eu
«nascido» cabo-verdiano, ao fim de tantas páginas sou,
pelo menos, alguém a quem Cabo Verde ajudou a formar
enquanto pessoa. É a Cabo Verde e ao cabo-verdianos
que dedico este livro.»
O Camões - Instituto da Cooperação e da Língua I.P.
publicará em