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Pele Artificial

reage a

temperatura

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Algumas espécies de cobra conseguem sentir a presença da presa pela temperatura. Por meio de um sistema termossensível localizado na cabeça, elas percebem diferentes intensidades de calor e a distância da emissão irradiada por animais de sangue quente, como os mamíferos. Um grupo de engenheiros e cientistas do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Calthec), nos Estados Unidos, desenvolveu uma pele artificial usando os mesmos princípios, hidrogel e uma substância presente na parede celular de plantas e em geleias. Detalhada neste mês na revista Science Robotics, a solução poderá aperfeiçoar tarefas executadas por robôs e intervenções médicas.

A pele é um dos órgãos sensoriais mais importantes do corpo humano, desempenhando papel essencial na interação com o ambiente. Luca Bonanomi, um dos autores do artigo, explica que, quando ocorre dano a esse órgão, como uma queimadura mais profunda, a capacidade de detecção de calor é reduzida ou até mesmo completamente perdida. “O desafio por trás da engenharia de peles eletrônicas artificiais é restaurar, em próteses, a sensação de pressão, contato e temperatura, a fim de permitir uma melhor interação com o mundo”. As peles eletrônicas que imitam a humana também são de interesse da robótica, ressalta Bonanomi, uma vez que um material sensível à temperatura pode permitir aos robôs distinguirem se estão interagindo com seres humanos ou com outras máquinas.

A ideia de fazer pele artificial veio de outro projeto liderado por Chiara Daraio, autora principal do artigo e doutoranda em ciência dos materiais e engenharia pela Universidade da Califórnia, San Diego, também nos Estados Unidos. O grupo de pesquisadores começou tentando criar madeira sintética. No meio dos experimentos, perceberam que os componentes da madeira respondiam eletricamente a alterações de temperatura. Curiosos com o fato, descobriram o componente que interagia com as mudanças. Era a pectina, molécula muito usada pela indústria alimentícia para produzir geleias e um dos principais componentes da parede celular de plantas.

Seguindo o novo caminho, os investigadores decidiram desenvolver películas de hidrogel com pectina. O hidrogel tem mais de 90% de água em sua composição e a maleabilidade como um dos principais atributos. De acordo com Adriana Del Monaco de Maria, professora de engenharia biomédica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, o uso desse material para aplicação em peles artificiais é inédito. “A escolha do hidrogel é a grande sacada desse projeto. De origem natural, com um comportamento bem específico, reprodutível e um processo simples de fabricação”, ressalta a especialista, que não participou do estudo.