Bibliotecando nas Bibliotecas Comunitárias Único | Page 168

A DURA VERDADE Se consciente quanto arrependimento ora encheria o coração de Tião, que hoje cercado de abandono, amarga as desventuras do insucesso. Lembrando contrito de tudo que deixou para trás. A sua casinha de taipa rodeada de vizinhos amigos. Apesar de pobre e sem muitas escolhas, o pouco que tinha lhe dava a satisfação de manter-se digno, sem precisar matar ou morrer para conseguir um simples bocado de comida. Ao se deparar com seus vizinhos naquela marquise, dividindo um pedaço de cimento frio para dormir, sempre alerta para não ser assassinado, para não lhe tirarem a única coisa que ainda pensa ter, a vida. Ele recordaria sua vizinhança no torrão natal, com quem dividia satisfeito sua pobreza, sem nunca sentir neles a inveja pelo seu jegue, por sua cachorra caçadora, por sua modesta mobília de tamboretes. Até um cafezinho podia oferecê-los nas animadas bocas de noite. Nunca faltava no chiqueiro de algum deles, um porquinho engordado com restos, que na sua matança reunia todos os vizinhos de perto e de longe para celebrar qualquer coisa ou coisa alguma. O que importava era o aconchego da família e dos amigos. Depois de um dia de festa e de fartura, comendo carne e bebendo pinga. Era uma verdadeira festa, ali se palestrava sem reservas, pois era um dia de brincadeiras e de alegria. Na saída ainda eram brindados com uma pequena porção da carne, para o almoço, a conhecida vizinhança entre os vizinhos, ele tinha saudades da pobreza que deixou lá no seu cantinho. Mas, para sua maior tristeza, num momento de lucidez. Tião veio a descobrir essa sua boa vida, isso quando o infortúnio já havia lhe batido a porta, quando encarou as miseráveis condições em que se encontrava, sem ter nem ao menos um amigo em quem confiar. Suas lembranças passeavam soltas, e traziam-lhe outras recordações: o bom de ser conhecido. As domingueiras na beira do riacho, na sombra fria das oiticicas, onde flertava de longe com Mariazinha, fumando um cigarro de fumo migado, “um pau ronca,” como se diz naquelas paragens,