Bibliotecando nas Bibliotecas Comunitárias Único | Page 166

a cada minuto. Os caminhos pelos quais tem trilhado não lhes foram benevolentes, a fragosidade tem sido sua melhor companheira. O tempo que não perdoa tem lhe infligido ardorosos testes, a cada dia que passa mais distante da realidade o leva. O maltrato e a miséria, tem afetado sua consciência, a perturbação tem lhe visitado constantemente , as lembranças que perguntavam das promessas feitas num passado não tão distante, não lhes visitam mais. Aquele – um dia voltarei e trarei a meu humilde lar mais alegria – perdeu-se nas curvas do destino, os brados de fortuna pelo trabalho desapareceram. Tião jamais pensou um dia, defrontar-se com tamanha desilusão, nunca contou enfrentar a realidade das ruas, do desabrigo, do desconforto, da fome e os tortuosos caminhos dos desamparados. Caminhando pelos becos da desilusão, pelas vielas dos desenganos, e pelas travessas do desespero, Tião teve que encarar sua desventura longe da família, travou sua guerra por um espaço aqui fora, sem o apoio da mão amiga. Guerreou em batalhas perdidas, por um espaço nessa rua que lhe acolheu, enfrentou seus pares com unhas e dentes, defendendo sua sobrevivência. Nas trincheiras da vida, embrenhou-se à espreita de melhores oportunidades para abiscoitar seu alimento. Nessa guerra sem vencedores, consumiu seus dias em escaramuças perdidas, atacando seus vizinhos para defender seu bocado de pão. Essa brutal vivência, lhe fez esquecer os preceitos morais do homem, o animal instalou-se em seu ser, a barbárie lhe dominou por inteiro, e nada lhe era diferente; todas as suas ações lhes pareciam verdadeiras, sem retoque nem censura. A realidade havia lhe abandonado, sua razão fugira dos trâmites conceituais, o discernimento não lhe era mais possível, adotava reações alheias ao senso comum. Sem mais controlar seus atos e envolvido numa teia de contravenções, procurava manter- se ao menos vivo, pois em seu redor pereciam homens e mulheres da mesma tribo, abatidos por seus próprios companheiros, sem a intervenção moral de qualquer um responsável. Sua luta era infinda, pois desistir ou parar, seria morte certa, fechou-se dentro de um círculo incapaz de escapar, o casulo que o prendia fincava-lhe amarras fortíssimas, tendo como única saída, manter-se ativo dentro dele. Nessa guerra, em que todos saem perdedores e vencidos, a vitória maior era manter viva a luta, sem a preocupação com seu próximo