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A VIAGEM
Depois das despedidas dos amigos ali ficaram, e dos choros
contidos, deu-se a partida. O caminhão velho e sem segurança
saiu gemendo estrada a fora, deixando para trás, numa nuvem de
poeira, a esperança de cada um. O pó era tanto que impedia a
visão de quem ia ou ficava. No balanço do veículo, sonhos iam
se misturando com medos, acalentados por uma breve esperança,
pois cada um de seus passageiros carregava a sua ilusão, Tião,
absorto em seus pensamentos, relembrava as promessas, e
bordava em ouro suas propensas conquistas. Via desfilando, em
seu futuro, realizações de há muito desejadas, num passado
pouco distante. Via satisfeitos os desejos de ajudar seus entes
queridos, pois deixará para trás a esperança de um retorno
triunfante e carregado de feitos. Dias e mais dias se consumiam
naquela viagem insólita, percorrendo estradas sem fim, todas
vicinais, já que as principais, as BR, não podiam ser usadas, pois
o veículo não dispunha de licença nem condições para
empreender tamanha jornada. Foram semanas de sofrimento,
engolindo poeira e aguentando solavanco. Para enfrentar
tamanho desconforto, só a vontade de mudar, pois todos
resistiam juntando as dores em uma dor só, indo da cabeça ao
dedão do pé. O corpo moído, como se tivera apanhado de vara.
Alimentação era muito precária, pois o pouco dinheiro que
juntará com a venda de alguns bichos, como bode, cabra e
galinhas, não podia ser gasto sem medida, pois, do mesmo, teria
que sobrar algum para o custeio nos primeiros dias em São
Paulo, enquanto conseguisse um emprego. Ainda bem que a mãe
de Tião preparou algumas galinhas feitas farofa, mais pouco
rendeu, pois a viagem era lenta e desgastante, com o pouco
dinheiro mantivera seu sustento a base de merendas, em
mercearias a beira da estrada. Banho? Só quando se encontrava
um barreiro d’água pelo caminho. Para matar a sede? Muitos dos
passageiros levavam consigo, água em cabaças, que era rateada
entre eles. Após tantos dias de sofrimento, enfim o destino foi