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A DURA VERDADE
Se consciente quanto arrependimento ora encheria o coração
de Tião, que hoje cercado de abandono, amarga as desventuras
do insucesso. Lembrando contrito de tudo que deixou para trás.
A sua casinha de taipa rodeada de vizinhos amigos. Apesar de
pobre e sem muitas escolhas, o pouco que tinha lhe dava a
satisfação de manter-se digno, sem precisar matar ou morrer para
conseguir um simples bocado de comida. Ao se deparar com
seus vizinhos naquela marquise, dividindo um pedaço de
cimento frio para dormir, sempre alerta para não ser assassinado,
para não lhe tirarem a única coisa que ainda pensa ter, a vida.
Ele recordaria sua vizinhança no torrão natal, com quem dividia
satisfeito sua pobreza, sem nunca sentir neles a inveja pelo seu
jegue, por sua cachorra caçadora, por sua modesta mobília de
tamboretes. Até um cafezinho podia oferecê-los nas animadas
bocas de noite. Nunca faltava no chiqueiro de algum deles, um
porquinho engordado com restos, que na sua matança reunia
todos os vizinhos de perto e de longe para celebrar qualquer
coisa ou coisa alguma. O que importava era o aconchego da
família e dos amigos. Depois de um dia de festa e de fartura,
comendo carne e bebendo pinga. Era uma verdadeira festa, ali se
palestrava sem reservas, pois era um dia de brincadeiras e de
alegria. Na saída ainda eram brindados com uma pequena porção
da carne, para o almoço, a conhecida vizinhança entre os
vizinhos, ele tinha saudades da pobreza que deixou lá no seu
cantinho. Mas, para sua maior tristeza, num momento de lucidez.
Tião veio a descobrir essa sua boa vida, isso quando o infortúnio
já havia lhe batido a porta, quando encarou as miseráveis
condições em que se encontrava, sem ter nem ao menos um
amigo em quem confiar. Suas lembranças passeavam soltas, e
traziam-lhe outras recordações: o bom de ser conhecido. As
domingueiras na beira do riacho, na sombra fria das oiticicas,
onde flertava de longe com Mariazinha, fumando um cigarro de
fumo migado, “um pau ronca,” como se diz naquelas paragens,