B I B L I O N - R E V I S TA D E L I V R O S , L I V R O S E M R E V I S TA
Salomão e Eclesiastes
A tradição judeo-cristã atribui a autoria
Estas são questões que muitos
querem ver respondidas, mas que poucos
conseguem responder por eles mesmos; afi-
nal, não seria fantástico se todos soubéssemos
qual é o sentido da vida, ou para onde vamos
após a morte? (E que, uma vez sabendo, todos
pudéssemos estar de acordo?)
Acontece que em outros tempos as pessoas
olhavam para os seus líderes como fontes
de sabedoria. Era uma expectativa do povo
que a sua autoridade máxima possuísse dis-
cernimento, aquela capacidade de entender
objetivamente a realidade em que viviam, e a
sabedoria para agir corretamente perante essa
realidade. A história reconhece vários líderes
como sábios, porém dois se destacam como
verdadeiros “reis-filósofos” no seu amor pela
sabedoria e na sua habilidade para governar:
Salomão, rei de Israel, e Marco Aurélio, im-
perador romano.
Salomão é para muitos o homem mais
sábio que alguma vez existiu. Os seus provér-
bios e cânticos, assim como os relatos do seu
reinado nos livros de Reis e Crónicas, atestam
à sagacidade, riqueza, influência e poder do
sucessor e filho de David. Salomão gozou de
um reinado pacífico, durante o qual Israel
atingiu o pináculo da sua prosperidade. Ele
ergueu o templo que o seu pai David planeara,
forjou boas relações com outros líderes do seu
tempo através do comércio e da diplomacia
(como são exemplos o rei Hirão I de Tiro e
a rainha de Sabá) e desfrutou de uma vida
do livro de Eclesiastes a Salomão, autor
de Cânticos, da maioria de Provérbios e
de outros escritos que não estão incluídos
no Antigo Testamento. No entanto, mui-
tos historiadores e teólogos têm vindo a
rejeitar essa teoria devido a vários fatores,
entre eles o tema do livro e a linguagem
usada pelo autor, que colocam a data de
Eclesiastes à volta do séc. III a.C. – sete-
centos anos após o reinado de Salomão.
No seu comentário de Eclesiastes, o
Dr. Michael V. Fox parte do princípio que
o Qohelet, o suposto autor do livro, é na
verdade uma personagem fictícia feita à
imagem de Salomão, e não o próprio rei,
nem nenhuma pessoa ligada diretamente
ao rei. Fox reconhece também uma forte
influencia de filosofia grega no texto,
visto que o Eclesiastes procura saber a
verdade através de uma reflexão lógica,
e não através de revelação divina ou
do estudo das tradições; o crítico chega
até a identificar traços de estoicismo no
discurs