BIBLION MAGAZINE EDIÇÃO INTERATIVA (PT) #6 / NOV-DEZ 2017 | Page 10

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Escrituras para alcançar a graça de Deus , o que por sua vez desafia o dogma da Igreja de Roma , apoiado fortemente pelos elementos de mérito , de tradição eclesiástica e de autoridade sacerdotal por sucessão apostólica .
Lutero começa por declarar a natureza aparentemente paradoxal do Cristão , afirmando que “ o Cristão é o mais livre de todos os senhores , e sujeito a nenhum outro ; o Cristão é o mais obediente de todos os servos , e sujeito a todos os outros .” Esta natureza está intimamente ligada com a composição do homem como um ser físico e espiritual , com o vínculo entre a alma e a carne . Apesar de serem coisas distintas , a alma e a carne não estão separadas uma da outra , porém trabalham em conjunto para realizar esta resolução paradoxal . Lutero defende que o homem interior ( a alma ) deve estar convicto de que é apenas um pecador e de que necessita da graça e justiça de Deus para ser salvo , mas que não há nada que o homem exterior ( a carne ) possa fazer para sua própria justificação . Para o monge , todas as obras são nulas e condenáveis se não forem feitas de livre arbítrio e pela fé intransigente , e mesmo assim , não existe nada inerente às obras que contribua para a justificação e salvação de quem as realiza .
Ao longo deste tratado , Lutero enfatiza o papel da fé como o único elo de ligação entre a alma do Cristão e o próprio Cristo . É por esta ligação pela fé , segundo Lutero , que o Cristão é livre da escravidão do pecado . É também por esta ligação pela fé que somos “ reis ” e “ sacerdotes ” do foro espiritual , tal como Cristo também o é . No entanto , o corpo tem uma vontade própria , “ que ambiciona servir o mundo e buscar a sua própria gratificação ”; é aqui que Lutero afirma o uso das obras , não para a justificação da alma , mas com o duplo propósito de disciplinar a carne e de amar o próximo . Do ponto de vista do monge , o ensino das obras como meio para alcançar a salvação é “ demoníaco ” e “ uma noção perversa ”, uma vez que as obras são intrinsecamente materiais e não podem afetar de qualquer forma aquilo que é espiritual ; porém ele reconhece que elas têm o seu valor para a submissão do corpo à fé e para o proveito do próximo em amor .
Lutero conclui com uma advertência aos que , por um lado , recusam-se a aceitar a liberdade Cristã e teimam em executar as obras , leis e cerimónias com o intuito de serem justificados por estas , e aos que por outro lado distorcem o significado desta liberdade e a usam para desprezar completamente as obras e tradições . O monge de Wittenberg traça uma linha entre os que se agarram às leis e às obras por pura teimosia e orgulho , e os que o fazem porque “ não são capazes de assimilar essa liberdade da fé , mesmo estando dispostos a fazê-lo ”. O Cristão deve desafiar a arrogância dos primeiros com a máxima ousadia , porém deve observar a doutrina com cautela quando na presença dos últimos , para que estes não se ofendam .
Esta obra da Biblion e da Unique Creations é a tradução da versão em inglês produzida por Elizabeth T . Knuth e David Widger , atualmente disponível em Gutenberg . org . O leitor pode conseguir o eBook da Biblion no nosso site , www . biblion . pt , e aproveite para subscrever a nossa revista caso ainda não o tenha feito !
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NOV-DEZ 2017

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