atómica maio de 2024 | Page 12

MAS O QUE SÃO EXATAMENTE PLANTAS CARNÍVORAS?

Elas realizam, como as demais espécies, a fotossíntese (quer dizer, produzem o seu próprio alimento a partir de matéria inorgânica e luz), mas com a caraterística que é o tema deste artigo: conseguem capturar pequenos animais e digeri-los, utilizando os nutrientes para criar a energia que lhes permita realizar as suas atividades vitais. “Pequenos animais”? Sim: insetos, como já vimos, mas não só: anfíbios, répteis e até aves.

 

Vivem em regiões tropicais, com mais incidência em zonas da América do Sul, do Norte e Central, na Austrália e no Sudeste Asiático, mas não existe uma grande variedade de espécies deste género na  Europa nem em África;  curiosamente, também não habitam a grandiosa floresta da Amazónia, pois necessitam de ambientes abertos, solos ácidos (pH abaixo de 7) e com poucos nutrientes, pois é essa combinação o motivo de estas plantas terem evoluído e desenvolvido a sua especificidade, de forma a obterem sobretudo nitratos, presentes nas proteínas dos animais de que se alimentam.

 

Após a captura da sua presa, espécies como Cephalotus follicularis, Nepenthes alata e Sarracenia  purpurea libertam, à semelhança do nosso estômago, um líquido digestivo, composto por diversas enzimas, como a quitinase, básica, que parte a quitina que se encontra no interior do exoesqueleto dos insetos, mas também fosfatase, ácida, que permite às plantas obter fósforo do corpo dos animais.

E EM PORTUGAL?

Em Portugal também existem plantas carnívoras, como, por exemplo, o pinheiro-baboso, muito comum no nosso país, em Espanha e Marrocos. Esta planta está habituada a viver em solos secos, compostos principalmente por xisto, e para caçar emite um odor de mel, capaz de atrair insetos como moscas, abelhas, borboletas e mosquitos. Surpreendentemente, a duração da digestão pode ir até 8 dias.

Para além do pinheiro baboso, existem mais 7 espécies de plantas carnívoras no nosso país: a Drosera intermedia, a Drosera rotundifolia, a Utricularia subulata, a Utricularia gibba, a Utricularia australis, Pinguicula vulgaris e a Pinguicula lusitanica.

PLANTAS CARNÍVORAS COMO INSETICIDAS NATURAIS

 

A já mencionada, logo no início, Venus Flytrap, originária dos EUA, funciona como um “inseticida natural”, prendendo as moscas, com uma estrutura de fixação semelhante a uma "mandíbula", de forma a alimentar-se delas.

Mas como pode uma planta sem olhos saber quando tem uma mosca na “boca"?

Na verdade, a explicação é bastante simples. Existem os chamados “pelos de gatilho” ou “pelos sensíveis”, que, se tocados pelo inseto repetidamente num curto intervalo de tempo, fazem com que a “mandíbula” da planta se feche, prendendo-o. A exigência de acionamento repetido neste mecanismo serve como salvaguarda contra a perda de energia e  evita a captura de objetos sem valor nutricional. A planta só irá começar a digestão depois de mais cinco estímulos terem sido ativados, garantindo assim que tenha capturado um animal vivo digno de consumo. Por vezes, estes insetos escapam ao destino cruel de morrer esmagados, ainda que raramente.

Mais ainda, esta planta não consome apenas moscas, podendo alimentar-se também de

 formigas, besouros, gafanhotos,  outros insetos voadores e aranhas. Uma Venus Flytrap pode levar de três a cinco dias para digerir um organismo, e pode levar meses entre as refeições.

Uma curiosidade sobre esta planta é que o seu nome comum (Venus Flytrap)  se refere a Vénus, a deusa romana do amor. O nome científico, Dionaea, ("filha de Dione"), remete para a deusa grega Afrodite, enquanto o nome da espécie, muscipula, é o termo em latim para "ratoeira" e "armadilha de mosca".

Existem ainda plantas como as da espécie Nepenthes mirabilis que também se alimentam de insetos e outras presas, mas com um método de captura diferente: têm a forma de um jarro e a presa sente-se atraída pelo odor e pela cor da planta. Quando o inseto entra no jarro, as suas asas ficam molhadas devido ao contacto com as paredes que o envolvem, levando a que a presa tente, ineficazmente, escalá-las.

Isto leva a que o animal caia no fundo do jarro, que contém substâncias segregadas pela planta e enzimas digestivas.

Olhando para imagens desta planta, é possível notar uma “tampa” deste jarro. Pensar-se-ia que auxiliasse na captura de alimento, no entanto, não é esse o caso. A sua função é apenas a de evitar a entrada de água da chuva para o jarro, visto que ela diluiria as substâncias no seu interior, essenciais para a predação.

À semelhança da Venus Flytrap, também as Nepenthes mirabilis chegam a ingerir pequenos vertebrados. Acredita-se que estes animais entram no seu interior à procura de insetos e acabam por cair no fundo do jarro, de onde não conseguem escapar, por serem pequenos ou estarem debilitados.

ELOGIO DA CRIATIVIDADE DA NATUREZA

Mergulhámos, portanto, na pesquisa sobre plantas carnívoras, ou com as imagens dantescas de seres terríficos, de que nos alimentaram os subgéneros de terror e de ficção científica; ou com a ideia de que não existiriam na realidade, ou de que seriam muito mais inofensivas do que se apregoa. Na transição da fantasia para o real, os viciados em grandes medos e sustos (escrevemos no início), poderão ficar dececionados. Mas, pelo que viemos descobrindo, sabemos, agora, que não muito dececionados. Primeiro, porque elas são eficazes e poderosas. Mas, sobretudo, porque constituem uma ode a outro poder: o da adaptação. O da invenção de meios para ludibriar e aproveitar o que há, mesmo quando o que há é pobre. O da criatividade da natureza na luta pela sobrevivência. ✿