FILMES E CIÊNCIA
As nossas sugestões
Por: Sónia Ferreira
Nos últimos meses os espetaculares progressos com os chamados modelos de inteligência artificial ocuparam o espaço das principais notícias, das discussões nas redes sociais, dos vídeos no YouTube e da imaginação de muitos de nós. As potencialidades dos LLM (Larg Language Models), como o chatGPT ou ferramentas de arte generativa, inspiram grandes esperanças (Estamos no início de um caminho direto para descobrir a cura de muitas doenças? De encontrar novas leis da Física? De tornar as horas de trabalho muito mais produtivas?), mas existem também aqueles que têm acompanhado o processo com angústia (Levará isto à destruição de muitos empregos? Poderão estas tecnologias “revoltar-se” e levar à extinção da humanidade?).
Debates e angústias destas não são novas. Elas acompanharam os primórdios na energia atómica, os progressos na Genética, o início da conquista do espaço e, fundamentalmente, toda a tecnologia que sugere uma revolução na nossa forma de viver. Como é evidente estas preocupações e discussões foram refletidas e forma de inspiração nos meios artísticos. Há muitos exemplos conhecidos na literatura e na pintura, mas para a maioria das pessoas o contacto com este assunto tem sido feito sobretudo através do cinema.
Em 1902, um dos primeiros exemplos será certamente o filme “Viagem à Lua” de Georges Méliès. Neste pequeno filme podemos já ver espelhados alguns dos principais tópicos que continuam hoje a ser explorados em filmes contemporâneos: a expectativa face à nova tecnologia, o deslumbramento com as possibilidades que abre, mas também a ansiedade pelo desconhecido. Os melhores exemplos deste género introduzem uma perspetiva particular. Desde especular acerca do que a exploração espacial nos diz sobre o sentido da vida (presente na obra-prima de Stanley Kubrick, “2001 Odisseia no espaço”), ou de que forma as leis físicas seriam materializadas em ambientes muito diferentes (como no “Interstellar”), ou abordar a eterna luta entre ciência e religião (presente em “Contacto”), ou centrar-se em como a tecnologia pode estimular aquilo que de mais infantil encontramos nas nossas sociedades (patente no divertido “Herói do ano 2000”).
Outras abordagens preferem uma reflexão mais localizada, concentrando-se num progresso científico particular. O filme “The boys from Brazil, de 1978, resume algumas das preocupações sociais e científicas relacionadas com a história do século XX e as técnicas de edição genética. Mais recentemente, o “Ex Machina” serviu como um interessante prólogo para um debate que, sete anos depois, se tornou urgente e necessário. Para quem gostar, pode recuar e explorar o “Inteligência artificial”, filme de Steven Spielberg lançado em 2001, a partir de um projeto que Stanley Kubrick nunca cumpriu.
Nem sempre a lição a reter é o resultado final, mas algumas das implicações éticas do processo, o que é apresentado de forma brilhante por David Lynch no “O Homem Elefante”.
A ciência, pelo menos até agora, é feita por pessoas, mesmo aquela que pode ser vista como a “ciência dos Deuses”. O percurso destas pessoas, não raras vezes, foi preenchido com muitos obstáculos, incompreensões, falhanços e injustiças. Graças à sua imaginação e perseverança, e ao facto de em ciência lidarmos com a verdade, ou pelo menos a melhor aproximação a esta, o trabalho destes cientistas ultrapassou essas barreiras e melhorou a vida de muitas gerações posteriores. Estas vidas extraordinárias podiam dar um filme e algumas delas efetivamente deram, como a vida de John Nash, Marie Curie, Alan Turing, e Katherine Johnson, Dorothy Vaughn e Mary Jackson.
Esperamos que esta nossa lista vos possa proporcionar algumas horas de prazer cinéfilo, mas também seja um trampolim para continuar a aprender e a desenvolver o gosto pela ciência. ■