atómica maio de 2023 | Page 10

MARÉS

BIOLUMINESCENTES

Por Ana Pinto e Maria Luisa Rodrigues

O QUE SÃO AS MARÉS BIOLUMINESCENTES?

As marés bioluminescentes ocorrem à noite e são um fenómeno que se verifica quando estão presentes no mar grandes massas de plâncton de que fazem parte dinoflagelados - algas unicelulares biflageladas que se movimentam em forma de hélice (dino, em grego, significa rodar). A este grupo pertence a espécie Noctiluca Scintillans, conhecida pela sua capacidade de bioluminescência.

Considera-se bioluminescência o processo de emissão de luz visível por organismos vivos. A bioluminescência é originada por reações bioquímicas que envolvem uma molécula orgânica designada luciferina e biocatalisadores denominados genericamente por luciferases. A bioluminescência é uma “luz fria” pois menos de 20% desta luz origina radiação térmica, ou seja, calor.

Devido à ausência de luz, durante a noite, a reação de bioluminescência pode ser observada a grande escala no mar, originando as marés bioluminescentes azuis. De dia, a luz do sol impede a observação da energia luminosa libertada através de reações de bioluminescência, pelo que a presença de massas destas algas no mar, provoca marés vermelhas, devido à tonalidade avermelhada destes dinoflagelados.

É a disponibilidade de nutrientes e a temperatura favorável do mar que levam à intensa reprodução destas algas. De acordo com Victor Vasconcelos, diretor do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIMAR), estas marés que fazem brilhar o mar de azul à noite são bem conhecidas dos pescadores que as chamam de “ardência”, uma vez que atraem os peixes predadores das algas.  Por isso, ao crepúsculo da tarde lançam-se ao mar e seguem a maré bioluminescente, sabendo que a faina piscatória será produtiva.

As marés vermelhas podem ocorrer devido à presença de algas da espécie Noctiluca Scintillans ou da espécie Alexandrium catenella, contudo, esta última não é capaz de libertar luz e é neurotóxica, sendo prejudicial o seu contacto quer com o homem, quer com outros seres vivos que se encontrem no mesmo ecossistema. Se Alexandrium catenella for consumida por crustáceos (lagostas, lagostins, camarões, caranguejos, etc.) e moluscos (mexilhão, ostra, lula, polvo, amêijoas, entre outros.), como a toxina saxitoxina se bioacumula, estes organismos acabam por morrer devido a paralisia. Ao ingerir crustáceos e moluscos contaminados, os seres humanos podem sofrer de dormência, ataxia, incoerência e, em casos extremos, paralisia respiratória e morte. A toxina foi descoberta em 1927 no centro da Califórnia, quando a ingestão de crustáceos e moluscos contaminados provocou a morte de mais de cem pessoas.

Reação de bioluminescência em Noctiluca Scintillans