Outro exemplo reside na ambiguidade do que, de facto, se está a avaliar no teste. Ao tentar analisar a existência de pensamento autónomo numa máquina, falhamos na compreensão daquilo em que realmente consiste o pensamento independente e por que parâmetros é que essa qualidade deveria ser avaliada. Atrevemo-nos a afirmar, até, que, ao não compreendermos inteiramente o funcionamento da nossa consciência ou a maneira como o nosso cérebro funciona, estamos desde logo mal equipados para testar o mesmo em outra coisa ou criatura que possa ou não possuir a mesma característica. Sendo, por isso, quaisquer resultados derivados de experiências conduzidas por nós, mediante o que desconhecemos, resultados falaciosos.
Devido a estas possíveis falhas na utilidade do teste, e do avanço de Natural Language Processing (NLP), um método utilizado na criação de modelos de língua como o ChatGPT e outros, o teste Turing tem-se tornado mais e mais obsoleto, pois programas atuais são facilmente capazes de compreender temas atuais, padrões na fala humana e recorrências comportamentais, que podem depois utilizar para melhor se assemelharem a seres humanos, aumentando a sua capacidade de nos enganar.
Atualmente, o teste Turing é um tópico de discussão na comunidade, e a sua capacidade de avaliar senciência continua a provocar divergências. Ainda assim, muitos cientistas defendem que o teste Turing se mantém como um bom ponto de partida para a avaliação de comportamento humano em máquinas.
Consciência e senciência são e continuarão a ser difíceis de avaliar. Esta dificuldade, do nosso ponto de vista, deriva de uma dificuldade enorme de compreensão do que, de facto, se está a abordar. Mesmo tratando-se de uma qualidade nossa, não sabemos bem de onde provém e ignoramos o total das formas em que se pode manifestar. Não sabemos ao certo se animais que habitam conosco funcionam da mesma maneira, porém, julgamos estar perante processos que se assemelham aos nossos comportamentos. Consciência e senciência são tópicos difíceis de abordar, cobertos de mistério e complexidade; não podemos esperar que as mesmas qualidades se manifestem de maneira equivalente nas máquinas que construímos, pois no mundo, em outros seres, isso também não sucede.
Admitimos que um dia se possa determinar, com um elevado grau de certeza, se as máquinas exibem consciência e senciência. E, quem sabe, talvez a única condição necessária para o garantirmos seja, como pensava Turing, uma ótima e coerente conversa.
Entretanto, por muito que a ficção científica jogue com os nossos temores e alimente, em nós, imaginários mundos distópicos (de resto, ainda bem que a fc estimula um lado inquietante da nossa criatividade), a revolta de robôs que se tenham tornado superiores aos humanos não está na ordem do dia. ■