atómica fevereiro de 2024 | Page 12

Perante aquelas questões que delimitam parte da esfera dos nossos medos e das nossas distopias, talvez valha a pena um recomeço do artigo. Primeiramente, tentando que nos acalmemos e dispensemos o pânico; depois, que procuremos compreender em que consiste precisamente “isto” de inteligência artificial (nos seus diversos usos, que começam a ser-nos tão familiares e populares, como o ChatGPT ou o Gemini); a seguir, que indaguemos em que ponto - e como - a inteligência artificial se tornaria indistinguível da inteligência humana; por fim, em que medida o futuro temido poderia - ou poderá - realmente vir a ser o nosso futuro, fora da ficção científica.

A Inteligência Artificial é, como o nome indica, a inteligência de máquinas, quer criada por humanos, quer aprendida pela própria máquina.

Atualmente, a IA está, mais do que nunca, como referimos, integrada no nosso dia-a-dia: por exemplo, nos motores de pesquisa como o Google, que a usam para mostrar os resultados mais relevantes; nas redes sociais que funcionam à base de recomendações fornecidas por IA; no ChatGPT e em outras aplicações semelhantes que recentemente tiveram um impacto enorme no mundo. Também têm sido feitos inúmeros avanços no estudo científico devido à IA. Parece que a IA só esteve em desenvolvimento nas últimas décadas mas, na verdade, tem vindo a progredir desde o século passado.

O primeiro desenvolvimento substancial na área da IA foi realizado por Alan Turing, conhecido principalmente pela sua pesquisa sobre ciência computacional e por ter idealizado o modelo de um computador universal - a máquina de Turing - em que os computadores atuais são baseados. Além disso, escreveu “Computing Machinery and Intelligence”, em que contempla se é possível uma máquina pensar, e dá origem ao teste de Turing.

Em 1945, Turing previu que, no futuro, os computadores seriam capazes de jogar xadrez. Apenas 6 anos depois, em 1951, Christopher Strachey criou um programa capaz de jogar damas. No mesmo ano, Dietrich Prinz criou um programa semelhante para xadrez, concretizando a previsão de Turing.

Ao longo do século XX, houve alguma evolução na IA em várias direções, incluindo a utilização de redes neuronais artificiais que simulam, de forma simplificada, o funcionamento dos neurónios nos nossos cérebros.

Entre os anos 90 e o final do século XX, a IA evoluiu muito devido principalmente ao aumento do poder computacional disponível. Graças a este progresso, em 1997, o sistema Deep Blue, capaz de processar 200 milhões de jogadas de xadrez por segundo, derrotou o campeão mundial Garry Kasparov. Por este tempo, a IA já era muito utilizada na indústria tecnológica, mas ainda não estava tão disponível como agora.

Foi na última década que se deu a grande explosão. A disponibilidade de quantidades massivas de dados e de uma capacidade de processamento maior possibilitou técnicas como o deep learning, que requerem treinar redes neuronais com grandes quantidades de dados, o que exige muito poder computacional. Isto originou diversas aplicações como, por exemplo, o reconhecimento facial usado nas câmaras dos telemóveis, reconhecimento de voz e assistentes virtuais como a Siri e outras mais.

Desde 2020, temos assistido a uma evolução súbita na IA. Surgiram IAs capazes de criar imagens, como o Stable Diffusion e o DALL-E; outros que conseguem processar e criar texto, como os chatbots ChatGPT da OpenAI, LLaMA da Meta e, mais recentemente, o Gemini da Google, que mostra ser mais ainda avançado que o ChatGPT-4. Este último parece ser o próximo passo em direção à criação de uma inteligência artificial geral, já que é capaz de processar vários tipos de multimédia e de resolver vários tipos de problemas.

Até aqui, portanto, nada de ameaçador na natureza ou no funcionamento desta forma de inteligência, em si: quando muito, na possibilidade da sua utilização por humanos desonestos. A fraude é uma prática antiga de pessoas, que nunca se inibiriam do recurso a tecnologias novas e aperfeiçoadas para a realizar.

Regressemos, então, a uma interrogação e a um cientista, já mencionados, e que se interligam. A interrogação: poderíamos falar de “consciência”, a propósito da inteligência artificial? Quanto ao cientista: Alan Turing, um dos primeiros e mais promissores investigadores a trabalhar sobre esse tema.

O teste que tem o seu nome (teste Turing) consiste numa experiência teórica criada por si em 1950. Sugere que as capacidades de uma inteligência artificial e a sua proximidade com a humana podem ser averiguadas através de um teste composto por conversas entre júris humanos e um interlocutor, que eles não vêem, devendo aqueles decidir, depois, se acabaram de conversar com um ser humano ou uma IA. Caso os júris falhem na distinção entre uma inteligência artificial e uma inteligência humana, considera-se que a IA passou no teste.

Alguns exemplos de perguntas que podem pertencer ao teste Turing são:

-        Qual a tua memória de infância mais marcante e de que forma te afeta nos dias de hoje?

-        Descreve-te utilizando cores e formas.

-        Descreve por que é que o tempo voa como uma flecha, mas a fruta voa como uma banana.

-        Que evento histórico te mudou mais e quando e onde estavas durante o evento?

-        (...)

-        Quais das perguntas anteriores foi a mais difícil de responder?

O resultado ser positivo poderá ser interpretado como a IA ter adquirido algum tipo de consciência, pensamento crítico, criatividade ou humanidade, porém,  ao pensarmos acerca desta hipótese, compreendemos que os resultados não nos dão uma certeza. Nada nos garante que a IA não seja apenas muito eficaz na replicação de respostas humanas, e não a desenvolvê-las independentemente. Nesse caso, o erro seria do júri que não conseguiu ver para lá das respostas enganadoras da IA.