atómica fevereiro de 2023 | Page 21

Evitar perder desnecessariamente energia é também um fator imprescindível para a nossa espécie. Entramos assim na Hipótese da Economia de Energia: a par da Hipótese da Savana Africana, a Hipótese da Economia de Energia visa explicar a adesão ao bipedismo como forma de poupar energia quando se tornava necessário percorrer longas distâncias para se encontrar alimento num ambiente em constante mudança. Alguns estudos realizados em chimpanzés mostram que as locomoções quadrúpedes e bípedes resultam num semelhante gasto de energia metabólica. Comparativamente, um ser humano moderno poupa cerca de 75% da sua energia metabólica quando anda sobre os pés. Estes estudos sugerem então que a mudança de locomoção não terá exigido muito dos nossos antepassados, e permite a possibilidade das restantes teorias.

Em último lugar, mas não menos importante por isso, apresento-lhe, caro leitor, a Hipótese da Termorregulação, proposta por Peter Wheeler. Este modelo defende que o bipedismo aumenta a área de exposição da superfície corporal, e consequentemente a dissipação do calor. Uma melhor termorregulação corporal, no clima de savana, traduzir-se-ia num maior conforto do indivíduo, potenciando a sua resistência, adaptabilidade e, por isso, a sua capacidade de sobrevivência.

Há, então, várias repostas para a pergunta que nos conduziu a este artigo. A verdade é que não se sabe qual delas será a mais correta – quiçá a melhor abordagem seja integrar todas as narrativas exploradas ao longo da sua leitura.

Embora o bipedismo pareça ser mais eficaz no que toca a várias atividades da vida dos nossos antigos antepassados, também veio com as suas desvantagens. “Pseudoandar” sobre duas patas provocou uma diminuição significativa na velocidade máxima atingível pelos hominídeos passados, expondo-os mais aos seus predadores carnívoros insaciáveis. Não obstante, esta desvantagem foi largamente ultrapassada por um bem maior: mãos livres.

As mãos livres foram – e são – a grande solução para o problema da velocidade diminuída dos humanos passados: possibilitaram a manufatura e uso de instrumentos de defesa e de caça, o trabalho de peles para proteção individual e coletiva deste “macaco sem pelo”, entre muitos outros feitos que se acredita estarem na base do desenvolvimento neurológico exponencial ao longo da evolução humana, e permitiram que um simples e aparentemente indefeso ser, perdido nos confins do continente africano, se dispersasse e dominasse o Reino Animal. ■

Reconstrução artística de Velizar Simeonovski do macho  Danuvius guggenmosi.