atómica fevereiro de 2023 | Page 11

X-MEN

Com o intuito de iniciar a análise do tema da mutação, identificamos como principal exemplo os X-Men, que fizeram a sua primeira aparição no nº1 da coleção de comics denominada “The X-Men" em 1963.

Trata-se de uma equipa de super-heróis formada pelo Professor X e composta por entes transformados por mutações, com a intenção de estabelecer a paz entre os mutantes e a humanidade.

Em X-men, é importante referir que os humanos “normais” possuem o gene X bloqueado, enquanto que os mutantes o têm desbloqueado devido a mutações aleatórias no material genético.

Assim como na matemática o "X" é uma incógnita, também neste caso o "gene X" seria desconhecido. Os autores das personagens concebem a possibilidade de o gene X, ao ser expresso, codificar uma proteína responsável por produzir sinais químicos capazes de induzir a leitura de outros genes silenciados, conferindo aos integrantes da equipa as mais variadas habilidades sobre-humanas.

As mutações génicas estão presentes na vida real, ainda que não se manifestem da forma como é mostrada nos quadradinhos. Muitas vezes estas mutações causam doenças como o cancro, o daltonismo, a hemofilia, entre outras, ou nem chegam a manifestar-se. Contudo, existem mutações com caráter evolucionário que permitiram aos seres mais bem adaptados sobreviverem. A humanidade é formada devido a processos evolutivos dos nossos ancestrais, logo podemos considerar-nos mutantes.  Temos como exemplo a variabilidade existente numa população de mariposas, Biston betularia, onde, apesar da maioria ser branca, existem alguns exemplares de cor preta, caraterísticas determinadas geneticamente. Na Revolução Industrial, a poluição gerada alterou a qualidade do ar, escureceu edifícios, muros e troncos, e a cor preta tornou-se vantajosa, pois estas mariposas mais facilmente se camuflavam e sobreviviam. Assim, após alguns anos a reproduzirem-se, o número de borboletas pretas aumentou, enquanto as borboletas brancas foram deixando de existir, uma vez que ficavam mais expostas aos seus predadores. Com o passar do tempo, o ar voltou a estar limpo, e então ocorreu o processo inverso: as mariposas pretas diminuíram na população, enquanto as brancas aumentaram. Podemos concluir que, embora todas as mariposas sejam da mesma espécie, existe variabilidade genética que se expressa em caraterísticas diferentes, e as mudanças ambientais levam a que indivíduos com uma determinada caraterística se tornem melhor adaptados.

Por outro lado, a expressão génica é controlada por muitos processos onde o silenciamento de genes tem um papel importante. Em 2006, uma equipa de investigadores que estudava o desenvolvimento de aves, descobriu que uma mutação em um único gene fazia com que os embriões desenvolvessem dentes. Segundo a teoria hoje mais aceite e difundida, as aves evoluíram a partir de dinossauros, que como sabemos eram portadores de dentes. Mas, há cerca de 80 M.a., o ancestral comum às aves atuais deixou de ter dentes pois o gene que permitia o aparecimento destas estruturas foi “desligado”. Hoje, modificando-o em laboratório, ainda é capaz de induzir a formação de dentes. A capacidade de expressar “genes dormentes” não é apenas do domínio da ficção científica!

Sendo assim, de entre todas as personagens dos X-Men, o Fera (The Beast), na sua figura primordial, seria a personagem que acreditamos representar uma evolução mais realista. Pensando nas suas características físicas iniciais, em que as mãos e pés eram semelhantes aos de um símio, e tendo em consideração a evolução da nossa espécie, o Fera parece ter “acordado” características entretanto silenciadas.

Seguindo esta linha, os X-Men são fruto de mutações geradoras de superpoderes validados na banda desenhada. Nós não temos asas, garras, nem lançamos lasers pelos olhos, mas somo considerados uma das espécies mais evoluídas deste planeta. Atendendo a que a natureza está em constante mudança, assim como nós, o nosso DNA continuará a modificar-se.

Teremos superpoderes escondidos no nosso genoma? 

Num planeta em mudança, se despertados poderão favorecer-nos?

Quem sabe seremos os próximos membros dos X-Men?