atómica fevereiro de 2023 | Page 26

Para lidar com o problema da atmosfera de Marte não ser habitável, a NASA começou a trabalhar no projeto MOXIE.

MOXIE é um acrónimo que significa Mars Oxygen ISRU Experiment, sendo ISRU “In Situ Resource Utilization”, o que significa que este dispositivo trabalhará com elementos provenientes do local onde se situa.

Este equipamento é um conversor de dióxido de carbono em oxigénio que foi levado na missão de 2020 do Perseverance rover. No dia 31 de agosto de 2022, através do blogue da NASA, foi divulgado ao público que MOXIE está a trabalhar e que na 11.ª ronda de funcionamento foi capaz de produzir 100 gramas de oxigénio por hora.

Claro que isto não é suficiente para a nossa sobrevivência no planeta, porém torna-se seguro dizer que, mediante os avanços feitos através deste projeto, conseguiremos ótimos resultados caso seja realizado um projeto em maior escala e com uma maior otimização do funcionamento do equipamento.

Outro problema de ir para Marte são as fontes de energia. Muitas das opções que nós temos de energia hoje em dia, não funcionam em Marte. A energia hidráulica não funciona por ausência de água líquida e corrente, a solar é menos eficiente devido à distância do Sol a Marte, a eólica precisa de equipamentos demasiado grandes, etc..

Mediante este problema a NASA tomou ação e, em conjunto com o departamento de energia dos Estados Unidos, criou um novo tipo de sistema de reatores nucleares chamado Kilopower, que foi capaz de produzir kilowatts de potência elétrica num teste utilizando urânio-235 como núcleo do reator para produzir energia através de fissão nuclear. Esta técnica utiliza núcleos de átomos pesados e instáveis e bombardeia-os com neutrões resultando em dois núcleos mais pequenos, neutrões e energia útil capaz de ser administrada a equipamentos.

Com o problema da energia a meio caminho de ser resolvido, resta ainda o transporte de uma tripulação, mantimentos, equipamento essencial, ferramentas, …

Para resolver isto existem várias companhias governamentais e privadas a trabalhar em projetos para foguetões rentáveis que tenham uma boa relação entre rota e performance. De tantas companhias, a que se tem focado especificamente em enviar pessoas a Marte é a SpaceX.

A empresa do célebre Elon Musk tem estado a trabalhar no projeto Starship.

Starship é um foguetão cujo objetivo é ser reutilizável e capaz de dar, pelo menos, uma volta ao planeta. Está equipado com um impulsionador do lançamento do foguetão que é capaz de 1590 toneladas-força de propulsão e motores denominados raptors que são capazes de 230 toneladas-força de propulsão.

Tem um “corpo” principal capaz de carregar até 100 a 150 toneladas, dependendo da órbita que realizar, e um compartimento de carga capaz de carregar até 100 ou mais toneladas. O compartimento de carga é capaz de carregar uma tripulação, equipamentos e mantimentos o que torna este tipo de foguetão uma ótima escolha para viagens interplanetárias.

Este foguetão é capaz de fazer várias viagens, o que não só facilita o desenvolvimento de novas missões (porque não precisa de se reconstruir todos os componentes), como também torna viagens espaciais, embora ainda caras, economicamente acessíveis.

Tal foguetão é um grande passo em direção a Marte, e os testes e aprimoramentos estão de momento a decorrer. À medida que se tornam mais sofisticados e potentes, podemos esperar que, com uma combinação de uma boa posição relativa de Marte à Terra e estes desenvolvimentos, possamos chegar a Marte, pelo menos, um pouco mais rapidamente.

(NOTA: Uma viagem de ida a Marte demora em média 213 dias)

Noutra vertente importante, sabemos que para vivermos em Marte precisamos de mantimentos duradouros. Mesmo que comida enlatada dure muito, nunca será viável alimentar uma civilização inteira, em Marte, com enlatados. Por esta razão, é muito importante estabelecer um ambiente suficientemente seguro para se desenvolver agricultura no planeta vermelho.

O solo de Marte é extremamente rico em sais e pobre em componentes orgânicos, o que o torna inabitável para plantas vindas da Terra que não possam ser cultivadas em ambientes extremos.

Para solucionar este problema, várias associações estão a testar diversos tipos de plantas num ambiente com solo artificialmente criado para se assemelhar ao de Marte. Uma destas investigações foi feita por uma equipa da universidade estatal de Iowa. Na sua experiência, a equipa recriou o melhor possível as condições encontradas em Marte. A experiência levou a descobrir que a alfafa conseguia crescer nestas condições adversas e que por isso talvez fosse possível utilizar esta planta para criar um fertilizante capaz de ajudar o crescimento de outras espécies. Esta hipótese foi confirmada depois de se realizarem experiências com alfaces, rabanetes, nabos e uma bactéria fotossintética marinha que se descobriu ter a capacidade de dessalinizar água salgada (Synechococcus); assim, foi possível cultivar estes vegetais “em Marte”. É importante notar que embora os vegetais se tenham desenvolvido e contivessem de facto vitaminas e minerais, o seu tamanho era pequeno e o seu valor calórico era pouco.

Depois de tudo isto, sabendo que existem outros desenvolvimentos a ser feitos, é seguro dizer que uma missão tripulada a Marte não está assim tão longe do nosso alcance, visto que reunimos muitas das condições necessárias (apenas não numa escala suficiente).

Conclusão:

O progresso científico da humanidade nunca há-de ser travado e mediante tanto progresso, através de puro julgamento próprio, reflexão e esperança, gostaria de oferecer a minha sincera estimativa de que teremos uma missão tripulada a Marte até 2035 e uma pequena civilização lá estabelecida até 2055; dado o crescimento exponencial do conhecimento sobre o nosso próprio planeta e outros, cada vez descobrimos mais maneiras de propulsionar esta nossa espantosa viagem e chegar às estrelas. ■