Ateneu Os Lusiadas | Page 16

Epílogo(C.X, 145 – 156) Num tom pessimista, Camões encerra o poema profetizando a decadência do país. Com exortações a Dom Sebastião, o Epílogo contrasta com o tom ufanista do poema. Ele apresenta de forma profética o destino português que, em 1580, cederia à dominação espanhola. O tom lamuriento, que parece esboçar também as precariedades vividas pelo poeta, pode ser notado na citação integral do epílogo: 145 “Não mais, Musa, não mais, que a Lira tenho Destemperada e a voz enrouquecida, E não do canto, mas de ver que venho Cantar a gente surda e endurecida. O favor com que mais se acende o engenho Não no dá a pátria, não, que está metida No gosto da cobiça e na rudeza Duma austera, apagada e vil tristeza. 146 E não sei por que influxo de Destino Não tem um ledo orgulho e geral gosto, Que os ânimos levanta de continuo A ter pera trabalhos ledo o rosto. Por isso vós, ó Rei, que por divino Conselho estais no régio sólio posto, Olhai que sois (e vede as outras gentes) Senhor só de vassalos excelentes. 147 Olhai que ledos vão, por várias vias, Quais rompentes leões e bravos touros, Dando os corpos a fomes e vigias, A ferro, a fogo, a setas e pelouros, A quentes regiões, a plagas frias, A golpes de idólatras e de Mouros, A perigos incógnitos do mundo, A naufrágios, a peixes, ao profundo. 148 Por vos servir, a tudo aparelhados; De vós tão longe, sempre obedientes; A quaisquer vossos ásperos mandados,