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A República - Livro VII - Platão
Nesse livro, Platão começa abordando a
questão da justiça. De início, são várias
definições, algumas delas utilizadas mais
tarde pela Ciência Política. É o caso, por
exemplo, da que foi retomada no séc. XX por
Julien Freund, para caracterizar a Política,
como toda relação em que as pessoas são
categorizadas como “amigos” e “inimigos”.
Numa das definições rechaçadas por Platão, a
justiça consistiria em ajudar os amigos e
prejudicar os inimigos. Para Freund, o fim da
Política seria agregar os amigos, desagregar
os inimigos. Outra definição também
condenada pelo autor é a de que a justiça
decorre de cada um pagar o que deve. Um
princípio que mais tarde veio a ser utilizado
pelos romanos, quando estabeleceram os
chamados præcepta juris (preceitos do
Direito), sintetizando-os em três regras de
ouro: honeste vivere, altere non lædere,
cuiquesum tribuere (viver honestamente,
não lesar o próximo e atribuir a cada um o
que é seu). A intervenção de Trasímaco, que é um sofista da Calcedônia
participante do diálogo, se resume a afirmar que a justiça não é mais que o
interesse do mais forte, ou seja, aquilo que redunda em benefício dos que detêm o
poder, o que indica não ser a justiça calcada em princípios éticos. Uma crença que
lhe permite assinalar que os desonestos desfrutam de uma vida melhor que o
homem honesto. No diálogo, Sócrates refuta o argumento e Platão põe em sua
boca, o que foi a orientação de sua própria vida. Como forma de condenar a
afirmação de Trasímaco, diz então que “é melhor padecer uma injustiça que
praticá-la”.
Glauco, outro personagem do diálogo, propõe a Sócrates três argumentos e pede
que, levando-os em conta, dê a sua própria definição de justiça:
(1º) a origem da justiça é meramente contratual. Ante os inconvenientes
do estado da natureza, que é o que precede a civilização, e que implicava
praticar e sofrer injustiças, os homens concordaram ser melhor
estabelecer acordos e promulgar convenções, dando-lhes os atributos de
legítimas e justas;
(2º) ninguém busca ou pratica a justiça, por ser um bem em si mesma.
Para proválo, usa a fábula de Giges, segundo a qual se possuíssemos um
anel que nos fizesse invisíveis, todos nós praticaríamos injustiças;
(3º) por fim, a perfeita injustiça consistiria em parecer justo sem sê-lo.
Por isso, essa prática seria aceita como a mais proveitosa, pois o ideal
seria combinar o egoísmo com a reputação de ser justo.