As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 99

O diagnóstico é desolador. O governo central gasta menos do que o necessário para manter o sistema público. Estados e municípios perdem com isso, pois têm de arcar com parcelas mais expressivas das despesas e coberturas. O governo Dilma é indiferente à perda de protagonismo do governo federal no financiamento do SUS, herança do governo Lula. Em 1995, a União arcava com 64% do financiamento público. Em 2008, a participação federal caiu para 44%. A consulta nas especialidades médicas, os exames e as cirurgias são as principais intervenções médicas objeto de brutal racionamento pelo SUS, impondo aos usuários longos períodos de espera. O débil envolvimento do governo central brasileiro no financiamento do sistema de saúde e a falta de uma agenda de reforma organizacional têm afetado duramente as suas funções de coordenação e de incentivo ao desenvolvimento do setor público. Há uma efetiva tendência à focalização da assistência governamental na população pobre, em contradição com a orientação universalista do SUS. Isso pode ser atraente em termos de justiça social, mas termina por deformar o sistema, pois a opção focalizadora é acompanhada pela redução na disponibilidade dos serviços mais complexos na esfera governamental. Os mais pobres terminam, assim, por não receber atendimento adequado. Acabam, assim, por investirem sempre mais em medicamentos e por caírem na armadilha dos planos de saúde, que são fortemente incentivados. “O resultado da fragmentação de interesses no sistema de saúde não é favorável sobre a perspectiva de justiça distributiva no país. O sistema de saúde brasileiro tornou-se iníquo e regressivo sob o ponto de vista das despesas das famílias. A provisão da assistência à saúde permanece, sem dúvida, como um grande desafio da democracia brasileira. O país necessita urgentemente de uma concertação política com foco no papel do governo federal e na redefiniç :6