As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 194
critério. Perdem com isso potência crítica, terminando por contribuir para desorganizar os próprios parâmetros da vida democrática e despolitizar a cidadania.
Mídia e regulação democrática
Na sociedade em que estamos passando a viver – movida a
velocidade, a informações, a imagens, a reviravoltas surpreendentes, a fluxos pouco controláveis – as instituições sofrem para
balizar as condutas individuais, os relacionamentos, a dinâmica
econômico-financeira, as relações com a natureza, e assim por
diante. Os indivíduos estão obrigados a ser “soberanos”, ainda
que não estejam emancipados. Recebem poucas orientações de
sentido provenientes do social, que a eles aparece como palco de
um drama sem roteiro. Todos os sinais sociais indicam que devemos aprender a viver em um mundo de instituições mais leves
e menos impositivas, construídas a partir de critérios mais democráticos, abertos e dinâmicos.
A moderna sociedade capitalista do século XXI anuncia-se
como sociedade tendencialmente participativa, mas com poucas
ações coletivas sustentáveis e organizadas. O ímpeto participativo tem a ver com a vida, não tanto com ideologias ou poder. Nas
classes médias e nos setores mais incluídos, esse estado de espírito aparece no voluntariado, na adesão a ONGs mas não a partidos, na recusa às instituições políticas, na má vontade com governos e políticos, no niilismo. Nas camadas pobres e excluídas,
aparece ora na adesão a líderes salvacionistas e nas manifestações espontâneas de solidariedade, ora na passividade, ora
no”desregramento” e na violência. Há hoje no Brasil uma força
cidadã em busca de tradução organizacional. Há movimentação
e mobilidade, mais que movimento e organização. Há mais
“subpolítica” (Beck) que política: mais fóruns, redes, reuniões e
ações voluntárias do que institucionalidade.
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