As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 186

crítica das políticas públicas. Tornou-se, assim, o principal “aparelho privado de hegemonia” (Gramsci), tendendo a ocupar o centro mesmo do processo político. O debate sobre o papel e o significado da mídia na modernidade tardia – tanto no que diz respeito às relações entre mídia e democracia, quanto no que diz respeito à efetiva potência política da mídia e a seus efeitos sobre a vida social – está atravessado por algumas questões referenciais básicas. (1) A mídia, em sentido lato, melhora ou piora a democracia? Ela atua de fato como um “quarto poder”, uma espécie de sombra dos governos, a exercer influência incontestável sobre os cidadãos, a pautar a agenda governamental e a conduta de políticos e governantes? Ou é, na verdade, um ator dentre outros, dotado de poder mas não de “poder absoluto” e, portanto, incapaz de subsumir os cidadãos a si? (2) Partindo do suposto de que em uma sociedade plural e democrática a mídia não tem como ser unidimensional e seus órgãos tendem ou a se contrapor ideológica e mercadologicamente uns aos outros ou a se dividir entre si em termos de conteúdo e informação, qual é sua real influência política? A mídia forma, informa ou deforma a opinião pública? (3) A democracia se deixa corromper pelo caráter espetacular hoje prevalecente nas práticas midiáticas ou tem como se adaptar a ele e manter sua integridade? Se vivemos em sociedades “mídiacentradas”, há como fazer política, produzir cultura e agir democrat