As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 131
Seja como for, os avanços sociais foram expressivos. Como
têm demonstrado os Relatórios do Pnud, o IDHM (Índice de
Desenvolvimento Humano dos Municípios) evoluiu de forma
muito favorável: passou de 0,493 em 1991para 0,727 em 2010,
crescendo 47,8%. E isso em que pesem as fragilidades econômicas e os desacertos no sistema político. A desigualdade recuou,
ainda que persista como problema. Vários municípios, que antes exibiam índices baixíssimos, avançaram, e em todo o território nacional. O país continua derrapando na educação (setor em
que o índice passou de 0,278 em 1991 para 0,637 em 2010), reflexo claro do pouco que se fez na área ao longo de várias décadas anteriores. O Estado tem agido com lentidão e as políticas
adotadas não têm reduzido o atraso.
Uma nova conflitualidade
Tal inflexão somou-se a uma alteração na maneira como a
agenda dos direitos humanos se reorganizou no Brasil ao longo das últimas décadas. Acompanhando tendências mundiais,
a sociedade brasileira se diferenciou e os direitos se pluralizaram e se deslocaram: a luta por eles e o discurso em torno deles
passaram a privilegiar sempre mais a questão do reconhecimento – da mulher, do negro, da criança, do homossexual.
Muitos movimentos sociais importantes modificaram, assim,
seu modo de ser, direcionando sua atuação para áreas mais tópicas e localizadas, deixando com isso de atuar na esfera pública propriamente dita. A sociedade se tornou mais rica de
direitos e de lutas por direitos, mas nem por isso ficou mais
politizada. Também não aumentaram as tensões entre a sociedade e o Estado, registrando-se até mesmo certo recuo de movimentos importantes (o Movimento dos Sem-Terra, o movimento negro, o movimento estudantil), que em alguma
medida passaram a se relacionar de modo mais “positivo” com
o Estado ou a redimensionar suas demandas, com um inevitá-
III. Voo panorâmico sobre o governo Dilma
129