As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 123

Oportunidades desenvolvimentistas O Brasil ingressou em 2012 com a sensação de que estavam maduras as condições para um novo ciclo de desenvolvimento. A percepção derivava, antes de tudo, do reconhecimento do potencial do país e da fixação de um padrão de política macroeconômica que já se estendia, com ajustes pontuais e complementos, por quase duas décadas. Independentemente de se avaliar os eventuais méritos daquele padrão, sua reiteração ao longo do tempo havia possibilitado a aquisição pelos gestores governamentais, e também por empresários e trabalhadores, de uma mentalidade mais racional no que diz respeito à gestão econômica, além de ter fixado alguns decisivos elementos para o desenvolvimento, entre os quais a estabilidade monetária, a empregabilidade e a contenção da inflação. A sincronia que se construira entre certas potencialidades inscritas nas esferas econômica, social e política também contribuía. O país estava conseguindo crescer (ainda que em ritmo não propriamente pujante), reduzia a pobreza e a desigualdade e fortalecia a democracia. Uma ideia de desenvolvimento mais atenta ao interesse nacional e de natureza mais estrutural, menos aprisionado a modelos prontos – ideia que se aproxima daquilo que alguns economistas começaram a chamar de “novo desenvolvimentismo” (BRESSER-PEREIRA, 2009, cap. 3) –, passou assim a se mostrar como possibilidade futura mais consistente. Pensada como estratégia e não como proposta teórica, a ideia partia de uma macroeconomia do desenvolvimento para definir um tripé de políticas: responsabilidade fiscal, taxa de juros moderada e taxa de câmbio realista, com o que se imaginava aumentar a competitividade das empresas industriais (em especial das mais avançadas) e respaldar o papel estratégico do Estado. Em sua versão mais à esquerda, devidamente qualificada como social-desenvolvimentismo, seria essa a ideia que prevaleceria no governo (CARNEIRO, 2013). III. Voo panorâmico sobre o governo Dilma 121