As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 117
importante combustível da ação por ela empreendida, na qual
pôde demonstrar capacidade de mudar a seu favor o rumo do
processo político. Nisto se incluiu a ação rápida e pontual que
teve ao emergirem as denúncias de corrupção envolvendo seus
ministros da Casa Civil (abril/junho), dos Transportes (junho/julho), da Agricultura (agosto) e do Turismo (setembro).
A sucessão de problemas constrangedores pareceu indicar que
a Presidência da República também estava infestada de inimigos,
produzidos inevitavelmente pela dinâmica do exercício do poder
e da luta política. O caminho de Dilma anunciava-se como pavimentado por pedras e pressões, vindas tanto dos partidos de oposição quanto de alas e setores de sua própria base de sustentação.
Obrigado a agir em ambientes assim contaminados, nenhum presidente tem como se conduzir de modo destemido.
Precisa negociar, ouvir, ceder, ponderar. No caso particular de
Dilma, desde o início ficou evidente que lhe faltavam paciência
e vontade para isso. Contava com poucos auxiliares desinteressados e muitos de seus amigos, aliados ou companheiros eram,
na verdade, protagonistas ativos de uma operação dedicada a
cercá-la, a pressioná-la, a roubar-lhe autoridade. Tal situação
iria se agravar à medida que fosse subindo a temperatura política nacional. Mesmo assim, a presidente chegou, em março de
2013, a exibir vistosos 65% de aprovação popular, e parecia suficientemente imunizada contra as toxinas ambientais.
Os inimigos do bom governo no Brasil compõem um elenco
extenso e difícil de ser administrado. O principal deles é o próprio
sistema com que se governa, o assim batizado “presidencialismo de
coalizão”. Trata-se de um sistema de alianças, ao qual se superpõe
um conjunto de fraquezas, idiossincrasias, ausências e excessos.
Sem ele, não se governa, mas com ele se governa mal. Para se equilibrar e adquirir operacionalidade, a Presidência é obrigada a compensar a falta de base parlamentar leal com a entrega de cargos e
espaços a diferentes grupos parlamentares, convertidos em aliados.
III. Voo panorâmico sobre o governo Dilma
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